26 de maio de 2009

Atos 2.13: Deus não é cachaça

Certa vez, vi um pastor proferir a seguinte “pérola” de interpretação das Escrituras:

"Ordem e decência para você é o quê? Tradicionalismo? Acho que o dia de Pentecostes pra você deve ter sido uma verdadeira desordem e indecência, não é? Imagine um monte de crentes cambaleando como bêbados, falando em outras línguas, como você me explica isso?”

Eu fiquei imaginando como alguém que se intitula pastor e tem a responsabilidade de cuidar bem do rebanho do Senhor, alimentando-o com a palavra de Deus, poderia fazer uma interpretação tão distorcida do Ministério do Espírito Santo em nossas vidas para justificar desordens na igreja.

A idéia que ele passou foi a de que estar cheio do Espírito Santo é como estar embriagado, cambaleando, descoordenado, caindo, dando a impressão para as pessoas de que não estamos muito conscientes do mundo à nossa volta ou de que estamos sem controle. Obviamente, ele aludiu à seguinte passagem de Atos dos Apóstolos:

"Chegando o dia de Pentecoste, estavam todos reunidos num só lugar. De repente veio do céu um som, como de um vento muito forte, e encheu toda a casa na qual estavam assentados. E viram o que parecia línguas de fogo, que se separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava.

"Havia em Jerusalém judeus, tementes a Deus, vindos de todas as nações do mundo. Ouvindo-se o som, ajuntou-se uma multidão que ficou perplexa, pois cada um os ouvia falar em sua própria língua. Atônitos e maravilhados, eles perguntavam: “Acaso não são galileus todos estes homens que estão falando? Então, como os ouvimos, cada um de nós, em nossa própria língua materna? Partos, medos e elamitas; habitantes da Mesopotâmia, Judéia e Capadócia, do Ponto e da província da Ásia, Frígia e Panfília, Egito e das partes da Líbia próximas a Cirene; visitantes vindos de Roma, tanto judeus como convertidos ao judaísmo; cretenses e árabes. Nós os ouvimos declarar as maravilhas de Deus em nossa própria língua!” Atônitos e perplexos, todos perguntavam uns aos outros: “Que significa isto?”

"Alguns, todavia, zombavam deles e diziam: “Eles beberam vinho demais”. (Atos 2. 1-13)


Se você prestar atenção no primeiro capítulo de Atos, a promessa de Jesus era bastante clara: “Não saiam de Jerusalém, mas esperem pela promessa de meu Pai, da qual lhes falei. Pois João batizou com água, mas dentro de poucos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo” e “receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra”. Ou seja, o Espírito Santo nos capacita a sermos testemunhas de Jesus Cristo num mundo que carece do Salvador e que precisa ouvir a respeito dele. (At 1.4-5, 8)

A interpretação de que estar cheio do Espírito é “parecer um ébrio” não se justifica. Jesus – ninguém mais cheio do Espírito Santo que ele para que possamos tomá-lo como exemplo – é prova disso. Ele anunciava a palavra de Deus com coragem. Ele não dava a impressão de não ter autocontrole e discernimento, a não ser para aquelas pessoas que não criam na mensagem dele, que tinham inveja dele e que consideravam suas palavras loucura ou blasfêmias.

O que houve na ocasião da descida do Espírito Santo foi que os discípulos estavam anunciando o evangelho com autoridade, poder e grande alegria. Eles certamente falaram da obra vitoriosa de Cristo. A ousadia e o entusiasmo dos Apóstolos levaram alguns zombadores, que não estavam nem aí para a mensagem, a pensar que eles haviam bebido – mas isso para aqueles que estavam zombando do incidente, porque não compreendiam a alegria e o destemor dos irmãos em anunciar as boas novas, e não estavam dispostos a escutar o que se lhes anunciava. Os discípulos não estavam cambaleando, tentando parecer bêbados ou querendo ser reconhecidos como tais. E também não estavam lá fazendo desordens.

O fato dos novos idiomas falados pelos discípulos foi um presente de Deus à igreja que começava ali, para que a mensagem do evangelho chegasse aos judeus de toda parte, que se encontravam em Jerusalém, naqueles dias, comemorando a festa de Pentecostes. Razão porque os irmãos demonstravam intrepidez, regozijo e obediência em testemunhar de Jesus, manifestando o fruto do Espírito (At 13.52; Gl 5.22-24).

Interessante vermos ainda este texto, que nos esclarece perfeitamente como é estar cheio do Espírito em comparação com pessoas que estão embriagadas:

"Tenham cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus. Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do Senhor. Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito, falando entre si com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor, dando graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo." (Efésios 5.15-20)


Isso não me parece o tipo de coisa que, quando faz, os outros vão pensar que você está bêbado. O texto exorta para não ser insensato e para saber como viver como cristão, coisa que um ébrio, que vive em libertinagem, não pode fazer.

O problema está quando você abandona a reverência e o temor de Deus e vive a fazer espetáculos “espontâneos” que escandalizam os irmãos e os visitantes, como se estes fossem legítimas manifestações do estar cheio do Espírito Santo.

Se isso não bastou para mostrar-lhe como é estar cheio do Espírito Santo, que tal ver o exemplo de vida destas pessoas, que anunciavam o evangelho corajosamente e glorificavam a Deus alegremente: Paulo, Pedro, João, Estevão, João Batista, Barnabé, Zacarias (pai de João Batista), Isabel...

E veja, também, Efésios 3.14-19:

"Por essa razão, ajoelho-me diante do Pai, do qual recebe o nome toda a família nos céus e na terra. Oro para que, com as suas gloriosas riquezas, ele os fortaleça no íntimo do seu ser com poder, por meio do seu Espírito, para que Cristo habite no coração de vocês mediante a fé; e oro para que, estando arraigados e alicerçados em amor, vocês possam, juntamente com todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento, para que vocês sejam cheios de toda a plenitude de Deus."

Agora faça uma reflexão e responda para você mesmo:

1. Sua igreja é cheia do Espírito Santo dessa forma ou da forma desordenada que algumas igrejas têm apregoado, onde alguns imitam animais, quebram objetos, rodam até cair no chão e desprezam quem não faz o mesmo?

2. O que você acha que a Bíblia realmente ensina sobre estar cheio do Espírito Santo, depois de ver estes textos e ler sobre o comportamento dos primeiros cristãos em Atos?

3. O que as pessoas que estão à sua volta têm manifestado como fruto, de acordo com os frutos descritos em Gálatas 5.16-26?

Citações bíblicas: Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional.

2 comentários:

Cris Corrêa disse...

De fato é triste essa confusa interpretação que fazem sobre as Escrituras, principalmente sobre o ''estar cheio do Espirito''. Muitos estão cheios de ''espiritos'' mas não do Espírito, e fazem verdadeiros espetáculos dizendo-se cheios do E.S, uma pena que as pessoas se deixam enganar por esse tipo de manifestção que do fruto do Espirito nada tem. - Parabéns pelo Blog Av. ^^

Avelar Jr. disse...

Valeu, Cris.
É uma honra ter a blogueira cristã mais hip-hop do universo postando aqui.

:*

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