25 de fevereiro de 2010

Para Quem Pensa Estar em Pé (III) – versão para neo-ortodoxos

Por Augustus Nicodemus
Publicado em O Tempora O Mores!

Eu não poderia deixar de incluir nessa série um post que trabalhasse a relação entre a santidade bíblica e a neo-ortodoxia. Acredito que uma das maiores vulnerabilidades da neo-ortodoxia é exatamente na área de santificação. Com isso não quero generalizar, dizendo que todo neo-ortodoxo inevitavelmente tem problemas sérios para viver uma vida santa. Apenas estou dizendo que os princípios operantes da neo-ortodoxia tendem a relegar a santificação a um papel secundário na vida cristã.

Começo recordando o que já disse aqui sobre a neo-ortodoxia (veja os links para os posts ao final). Ela foi uma tentativa de síntese entre a ortodoxia da Igreja e o liberalismo teológico no século passado, síntese em que não somente o liberalismo perdeu sua força, como também a própria ortodoxia, que já não seria a mesma. Contudo, a neo-ortodoxia continuou a se apresentar usando os termos e o vocabulário da ortodoxia histórica, embora com conteúdo diferente e que pouca coisa tem em comum com a ortodoxia histórica da Igreja. Aos neo-ortodoxos brasileiros eu diria o seguinte quanto à necessidade de santificação.

1. A santidade é visível aos olhos humanos – Ela não acontece nas regiões celestiais apenas, no âmbito das relações invisíveis entre os crentes e Deus. Se por um lado já fomos santificados e glorificados em Cristo nas regiões celestiais – coisa que não podemos sentir nem ver – somos exortados a nos santificar diariamente pela mortificação da natureza pecaminosa e pelo revestimento das virtudes cristãs (cf. Colossenses 3.1-6). A neo-ortodoxia tem a tendência de colocar como transcendentes as manifestações práticas e visíveis da operação da graça de Deus no ser humano, interpretando conversão e santificação em termos psicológicos, apenas. Talvez seja por esse motivo que alguns neo-ortodoxos – note que não estou generalizando – consideram como sem importância fazer sexo antes do casamento, fumar, beber, ir aos bailes e baladas, separar-se e casar de novo mais de uma vez, e usar palavrões e linguagem chula. Eles acabam esvaziando de sentido as declarações bíblicas sobre a necessidade diária e prática de uma vida separada do pecado e apegada aos valores cristãos.

2. A santidade é sinal da eleição – Muitos neo-ortodoxos negam isso, afirmando que os puritanos modificaram a doutrina da segurança da fé ensinada por Calvino. Os puritanos, com seu legalismo, teriam conectado a certeza de salvação à santidade e não á fé salvadora, como Calvino supostamente acreditava. Essa tese falsa já foi convincentemente refutada por muitos autores (recomendo o artigo de Paulo Anglada na revista Fides Reformata). Não precisamos dos puritanos para ver que a Bíblia ensina claramente que fomos eleitos para a santificação, e que sem santificação, ninguém verá ao Senhor (Hb 12.14). A santidade de vida – não estou falando de perfeição – é parte integrante da fé salvadora (Romanos 6). Santidade e fé salvadora são dois lados de uma mesma moeda. Tiago que o diga: “Fé sem obras é morta”. E no contexto, ele não estava falando de dar esmolas, mas de obedecer a Deus mesmo ao custo do que nos é mais precioso, como os exemplos de Abraão e Raabe demonstram (Tiago 2). Deixando de considerar a santificação como sinal da eleição para a vida eterna e adotando a fé como esse sinal, adotam uma base subjetiva para a segurança de salvação e correm o risco de se enganarem quanto à sua experiência religiosa, pois desta forma, podem se considerar salvos mesmo que não haja sinais visíveis da santificação entre eles.

3. A santidade é experimental – com isso quero dizer que podemos experimentá-la. Podemos viver, sentir e experimentar a vitória sobre as tentações interiores e exteriores. Sentimos e experimentamos grande gozo, alegria e deleite nas coisas de Deus. Sei que muitos vão se espantar com isso, mas declaro acreditar que reações físicas como tremer, chorar, emocionar-se, são perfeitamente válidas, se são resultado da pregação da Palavra de Deus na mente e no coração. Neo-ortodoxos tendem a considerar toda manifestação religiosa emocional como pentecostalismo, esquecidos de que a tradição reformada à qual dizem pertencer reconhece que a ação graciosa do Espírito na santificação por vezes produz efeitos profundos em nossa estrutura emocional. Eu sou contra emocionalismo e a manipulação e exploração das emoções. Mas, já chorei de alegria diante de Deus ao meditar na sua graça, já solucei amargamente, prostrado, por causa dos meus pecados, já senti uma paz que ultrapassa qualquer descrição ao enfrentar grandes tentações. O processo de santificação inevitavelmente passa pelas emoções – não é somente uma coisa da mente. E isso não é pietismo e nem pentecostalismo, como geralmente os neo-ortodoxos pensam.

4. A santidade precisa da prática devocional – Eu ainda acredito, depois de todos esses anos de crente, de pastor e professor de interpretação bíblica, que a leitura bíblica diária, junto com meditação e oração a Deus, são meios indispensáveis para nos santificarmos (Salmo 1). Não sei como muitos conseguem passar dias e dias sem ler a Palavra de Deus, sem meditar nela e buscar a Deus em oração. Quando por algum motivo deixo de fazer minhas devoções diárias, sinto o velho Adão crescer dentro em mim. Perco o gozo e o deleite na oração. Meu coração começa a se endurecer, meus sentidos espirituais começam a se embotar. O pecado deixa de ser odioso e começa a ser mais atraente. Eu nunca havia entendido até alguns anos passados porque neo-ortodoxos adotam uma ordem de culto extremamente litúrgica. Hoje, penso que descobri. Se não temos prática devocional e se tiramos o poder prático do Evangelho em nossas vidas, temos de transferir a dinâmica da santificação para outra esfera – e no caso, um culto extremamente formal e litúrgico. Não sou contra um culto litúrgico. Sou contra o “liturgismo” que aparece como substituto de uma vida devocional diária e do processo de santificação.

5. A santificação pressupõe que Deus fez e faz milagres neste mundo – A santificação bíblica pressupõe a realidade de três milagres. Primeiro, a vitória de Jesus sobre o pecado e a morte, por sua ressurreição física, literal e histórica de entre os mortos. É somente mediante nossa união com o Cristo ressurreto e exaltado que temos o poder para vencer o pecado em nós. Segundo, a operação do Espírito regenerando o pecador, dando-lhe uma nova natureza e implantando nele o princípio da nova vida em Cristo. Sem regeneração, não pode haver santificação. A velha natureza pecaminosa não pode santificar-se. É preciso uma nova natureza e somente um ato miraculoso, criador, de Deus a implanta no pecador. Terceiro, a ação da Providência de Deus, que diariamente impede que sejamos tentados mais do que podemos resistir, subjugando Satanás, subjugando nossas paixões e nos mantendo no caminho da santidade. A neo-ortodoxia tende a lançar todos os atos miraculosos de Deus para a heilsgeschichte, um nível de existência que eles inventaram, que é fora desse mundo. Portanto, quem realmente não crê na ação miraculosa de Deus na historie, no mundo real, não conhece o que é a regeneração, a união mística com Cristo e a vitória diária sobre o pecado.

6. A santificação precisa de referenciais morais objetivos e fixos -- Sem eles, a santificação descamba para o misticismo, pragmatismo, e paganismo. O referencial seguro do caminho da santidade é a Palavra de Deus, nossa única regra de fé e prática. Ela é lâmpada para meus pés e luz para meus caminhos (Salmo 119.105). A neo-ortodoxia vê a Bíblia, não como a Palavra de Deus, mas como o testemunho humano escrito e falível a essa revelação. Deus só me fala pela Bíblia num encontro existencial, cujo conteúdo será determinado pela minha necessidade naquele momento. Fica difícil dizer não ao pecado, mortificar as paixões, rejeitar as tentações, buscar a verdade, a pureza e a justiça quando não temos certeza que essas coisas são certas e que são a vontade de Deus para nós a todo momento. Uma Bíblia falível, muda, cheia de erros, é um guia inseguro e não-confiável na senda do Calvário.

“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12.14).

[!] Para saber mais sobre a neo-ortodoxia e seus problemas, sugiro que vocês visitem o blog do autor e cliquem nos links que estão logo após o texto que você acabou de ler aqui. Vale a pena! 

Ah, os textos anteriores da série "Para quem pensa estar de pé" também foram republicados aqui!

20 de fevereiro de 2010

"Jesus Cristo mudou meu viver"

Quando eu fazia faculdade, lembro-me de que fui a uma copiadora porque precisava tirar cópias do capítulo de um livro para fazer um trabalho. Lá aconteceu algo que ainda me revolta quando lembro. Talvez, porque, justamente, coisas assim fazem com que o evangelho seja escarnecido e desprezado pelas pessoas que não crêem em Jesus Cristo, e com que não sejamos levados a sério.

Então estava eu, esperando umas três pessoas que haviam chegado em minha frente, arrumando meus papéis e o livro. E como demoravam muito, havia um jornal sobre o balcão que comecei a ler.

 

A fila andou. E já ia chegar minha vez de ser atendido, não tivesse havido algo que chamou a atenção de um dos funcionários, o qual chamou os demais, que correram para se juntar a ele, na janela, para ficar admirando e rindo do quer quer que fosse. Obviamente, fiquei muito aborrecido por causa desse atraso. Ainda mais porque ninguém deixou de ir à janela para me atender.

Claro que fiquei também curioso para saber o que era tão interessante que justificasse essa fuga em massa do trabalho e permanência na janela. E corri para a porta: o acontecimento todo era uma mulher com um "short" muito curto e colado que passava na rua, indo provavelmente para uma academia.

Com mais raiva ainda, porque, pelo menos eu, dos presentes, tinha mais o que fazer da vida e tinha consciência disso - além de pressa - voltei para o balcão ouvindo um comentário, excessivamente torpe e vil, sobre "certas partes" que supostamente estariam bem visíveis na roupa da mulher: proferido pelo rapaz que havia chamado os demais para a janela. Eu fiquei constrangido. Mas até aí tudo bem porque a gente escuta coisa assim de pessoas que não são cristãs.

Quando levantei os olhos para ver o autor do comentário, que perdeu meu precioso tempo e vinha me atender com a maior cara lisa, eu, segurando o livro com as páginas marcadas, tentei disfarçar minha revolta e surpresa quando vi, estampado em sua camiseta, um desenho do rosto de Jesus com a frase "Jesus Cristo mudou meu viver". Felizmente ou não, o choque foi tão grande que eu fiquei sem palavras e saí sem dizer nada.

"Jesus uma ova, seu 'caba' safado!"

15 de fevereiro de 2010

“Deus, por favor, apareça na televisão!”


“Deus, por favor, apareça na televisão!”... Este verso de uma canção do Kid Abelha, para mim, ganhou um novo sentido depois de ver a "gospelização" da televisão. Transformou-se num clamor de desespero. Ou deveria. Estou cansado de ver o cristianismo ser chacoteado por causa do que mais aparece na caixa idiota, no micro-ondas do mal. Não, eu não quero que a mídia deixe de apresentar crimes e sem-vergonhezas de pastores, “apóstolos”, missionários e padres. Não; eu não vou esculhambar com a Globo por causa de “Ó Paí, Ó”. Eu quero é que os “representantes” do “cristianismo” televisivo tenham vergonha na cara e mudem de vida!


Dia desses eu conversava, até animadamente, com uma pessoa que não é evangélica, e, depois de eu responder que não era muçulmano (?!) e meu colega dizer "Não. Ele é evangélico.", ela jogou na minha cara a questão financeira: a primeira coisa que ela me perguntou depois de saber que eu era cristão (e foi com ironia) foi quanto eu dava para a igreja. E eu juro a vocês que eu me arrependo de não ter dito, mesmo estando em público, que isso não era da conta dela, porque ela não paga minhas contas e nem eu como às expensas dela (da próxima eu nem vacilo, digo mesmo).


Não se pode mais falar de Jesus!



O evangelho agora é visto como uma faceta do tema economia. E o mais interessante é que os evangélicos conseguimos ser tão vistos como uma simbiose de pilantras e idiotas que as pessoas até esquecem que sem-vergonhice e disfaçatez, além de burrice, ganância e hipocrisia não são exclusividade nossa. Infelizmente, parece que essa taça é nossa – se não por maioria de votos, é pelo IBOPE da TV.


Não estou querendo atacar igrejas ou religiões, tampouco menosprezar meus diletos irmãos em Cristo, mas, enquanto vejo ladrões na TV cometendo estelionatos religiosos e vendendo Deus como um produto (e não são apenas evangélicos), não posso esquecer que a venda de indulgências e outros escândalos e imoralidades não são realidade somente nossa.


Existem religiosos que condenam enriquecer e riquezas mas não são pobres: nadam em luxo, em seus palácios cobertos de ouro, enquanto suas ovelhas morrem de fome; existem os que usam o nome de Deus para manobras políticas por influência e domínio, mando e desmando e criações de doutrinas malucas; existem aqueles que enaltecem a ganância, a ambição, a usura, a avareza e não toleram a austeridade; e existem os que só enxergam a imundície na religião dos outros, e, sabendo que não é isto o que elas ensinam, usam as distorções que aparecem na mídia:


1. como munição para atacar pessoas sérias, que não compactuam com a injustiça (isto é, por sacanagem);


2. como forma de pré-julgar as pessoas antes de conhecê-las (isto é, por preconceito e burrice); e/ou


3. para “legitimar” sua própria vida de pecado (isto é, cinismo).


Esse tipo de gente cínica é da pior espécie, e, no fim, infelizmente, pode terminar se dando mal. Pois sabe o que é certo e bom, não pratica e ainda caçoa de quem tenta viver direito usando o mal exemplo de pessoas notoriamente más e pseudorreligiosas como escudo.


Esses "ministros de Deus" de TV que vivem mendigando dinheiro e prometendo prosperidade e bênçãos milagosas não repassam o que Jesus ensinou, não imitam seu exemplo de vida e são extremente arrogantes. Não são discípulos de Jesus, pois eles não pregam e não vivem o evangelho (1Timóteo 4.1-2; 1 João 2.18-19). Suas vidas, em sentido oposto ao da vida de Jesus, comprovam isso claramente, pois milagres e dons, por si sós, não são certeza de aprovação divina (Mateus 7.15-23; Mt 24.24; 2 Tessalonicenses 2.9-12): é aí que aumenta nossa responsabilidade em conhecer a palavra de Deus para saber discernir os espíritos e tomar decisões certas (Mateus 22.29; 1 João 4.1).


Eu posso ter meus pecados, mas não busco viver neles. Agora, por favor, não me ponham junto com um saco de enganadores ou extorquidos, pois disto eu não faço parte! Já me basta a vergonha de receber a mesma terminologia de "evangélicos" que eles recebem. Meus pais, mesmo não sendo “crentes”, me ensinaram a ter vergonha na cara e a não iludir as pessoas. Com certeza, certos falsos ministros também devem ter recebido essa lição dos pais deles. E, se não a põem em prática, eu não tenho nada a ver com eles. E menos ainda a minha fé tem a ver com a deles.


Quer saber o que é cristianismo? Não me pergunte. E não veja TV (Deus não aparece nela). Apenas não se faça de sonso, olhe para a vida de Cristo e sua palavra, e você terá sua resposta. Simples assim. Mas não venha transformar a boa mensagem do evangelho naquilo que você sabe que Jesus Cristo não ensinou, valendo-se de pessoas de má índole, que, nem de longe, merecem ser chamadas de discípulos dele (apesar de se declararem tais)!

Cansei. Cansei mesmo. Agora as pessoas simplesmente não presumem mais boa-fé, honstidade, retidão ou qualquer coisa boa de pessoas que tentam viver sua fé em Cristo. Somos pré-julgados como palhaços idiotas manipulados por sacerdotes descarados só em dizermos "sou evangélico". E nem venham me dizer que somos perseguidos por causa do nome de Jesus! Não somos! Antes fôssemos! Eu tenho a absoluta certeza de que somos perseguidos por culpa nossa e da maioria de pessoas que incharam e hiperlotaram templos sem saber o que o evangelho é; e pior: sem saber quem Cristo é!


Vamos deixar de ser cínicos. Ou imbecis.

10 de fevereiro de 2010

Paródia: Melô do Marido Falido

Melodia: Pra ver se cola - Trem da alegria (É a nova!)
Paródia minha, recauchutada para o blog.




Entre "ungidos" e maus pastores
pena o meu grande amor.
Chamei-lhe junto para questionar-lhe
A baita oferta que ela entregou-ôÔô.
Milionária! Exorbitante!
Meu dinheirinho escapou de mim!
O meu docinho foi para igreja...
Meu Deus, agora eu vou fali-i-ir!


[R]


Deixe o seu dinheiro aqui, passa essa bola!
Deixe os seus colares também,
relógio e bolsa!
Aqui Deus abençoa,
vai ficar rica e boa,
se não sacrificar, afundo sua canoa!


Dou "boa noite"
prá bancarrota,
e ela diz que é falta de fé!
Ô minha nega, esse problema
não é em mim, é em você-ê-ê!
Vai ler a Bíblia, crer só em Cristo
E então comece a obedecer.
Siga o Mestre, e fique atenta,
não siga um monte de mané-é-é!


[R]


Deus não tem obrigação
de nos dar bênção,
vamos crer e depender
da providência:
Ele nunca nos deixa,
fiel é sua presença,
e atende as nossas orações
feitas em Cristo!

6 de fevereiro de 2010

O Pastor e a Ialorixá + Comentário

Todos devem estar sabendo da onda de ataques à ônibus urbanos em Salvador, por conta da transferência para uma prisão de segurança máxima de um dos mais perigosos traficantes da cidade. Diariamente, ônibus são incendiados.




Em um destes ataques, o fogo se alastrou do ônibus para a casa de um homem humilde, casado e com filhos que se encontrava desempregado. O resultado foi o esperado: o homem, que já não tinha muita coisa, ficou com menos ainda.



Imediatamente, seus vizinhos se uniram para ajudá-lo. Um recebeu o homem em sua casa, a outra, recebeu a esposa e filhos.



Eis que estes vizinhos levam o homem a um programa de tv para que este peça publicamente que lhe seja conseguido um emprego. O homem treme e chora, humilhado. Mas diz: "Com a graça de Deus e do Senhor Jesus Cristo, eu passarei por toda esta dificuldade".



Os vizinhos dizem: "Amém". Um dos vizinhos é um homem relativamente jovem, de terno e gravata e com uma bíblia na mão. A outra, uma senhora que veste roupa branca e uma espécie de turbante sobre a cabeça. Sobre o pescoço, inúmeras contas. Isto mesmo, os vizinhos, um pastor evangélico e uma ialorixá (mãe de santo) se uniram para ajudar aquele necessitado.



O apresentador não resiste ao inusitado e pergunta ao pastor se ele não se sente constrangido de estar ali com uma pessoa do candomblé. Ele responde: "Eu não me preocupei com a religião dela e sim que ela me procurou para que ajudássemos este rapaz e, COMO CRISTÃO, eu não poderia dar as costas nem a ela nem a ele. Além do mais, ela é nossa vizinha há muito tempo, sempre respeitou nossa religião e, mesmo não concordando, tenho que respeitar a dela. Sou pastor mas nossa igreja é humilde, não tenho carro nem casa bonita. Vivo para servir a Deus e se Deus quis que eu servisse a Ele ao lado dela, eu é que não iria contrariá-lo".



Ao fim do programa, o rapaz conseguiu o emprego.



E eu chorei. Baixei a cabeça envergonhado e pedi perdão a Deus e àquele rapaz a quem eu não conhecia, pois, ao generalizar minhas críticas sobre os pastores, insultei aquele verdadeiro servo de Deus.



No jugo suave daquele que não escolhe religião para agir,



Costa Moreira.
Publicado no Mateus 23

Comentário de Avelar Jr.:

Histórias como esta precisam ser divulgadas, mormente agora que o que se destaca no meio evangélico é apenas o que de pior existe, e justamente aquilo que não expressa o cristianismo, levando as pessoas a crerem sempre o pior de cada um de nós.

A solidariedade é uma questão de caráter, não de religião. Entretanto, a solidariedade é um dos princípios básicos de muitas religiões. Dentro do cristianismo, o ser solidário não "aumenta pontos" para se ganhar o céu (porque Jesus salva quem se arrepende e se submete ao seu senhorio, tornando-se seu salvador - e isto é o evangelho), mas amar o próximo é uma obrigação (e aí entra a solidariedade como dever), e deixar de fazê-lo é pecado.

O pecado, por sua vez, não "diminui pontos", pois, por si só, um pecado já condena totalmente, tornando o homem carecido de Jesus Cristo. A fé salvadora em Jesus, no entanto, se manifesta em obras, da mesma forma que as raízes que não vemos sob a terra levam a árvore a produzir folhas e frutos que mostrem a sua natureza. Não enxergamos a raiz, mas, pela bela árvore que vemos, sabemos que ela está lá.

3 de fevereiro de 2010

Verdade portátil, Penduricalho religioso ou Identidade falsa?


A moda muda constantemente, por isso há gente que tem verdadeiro vício de se informar sobre as últimas tendências – desde o que existe de novo em termos de “conceito” aos últimos apetrechos e penduricalhos que servem de acessórios. Há quem viva disso. A moda é relevante porque a aparência é importante.

Apesar do entra e sai de tendências e das reviravoltas do mundo “fashion”, há algo que está sempre em evidência como “acessório” – pasme: a Bíblia!

Lembro-me de que, quando me converti, eu não tinha uma Bíblia. Mas eu carregava as dos meus colegas, que tinham vergonha de andar com elas quando saíamos da igreja. Perguntava-me por que alguém teria vergonha de deixar à mostra aquilo que considerava, pelo menos em tese, de fundamental importância na vida cristã.

Enfim, parece que a vergonha de andar com um livro preto com letras douradas era uma constante nos adolescentes dos anos 90. Eu não tinha esse problema, como disse. Eu até dizia que mesmo que a Bíblia fosse um livro dourado com letras pretas eu não me acanharia de levá-la comigo. E assim tem sido até hoje.

Agora o negócio é mais moderno (para não dizer “capitalista”): existem Bíblias de todos os modelos e cores – dá para combinar até com roupa, sapato e maquiagem de palhaço, acredite-me. Sempre tem uma para o seu estilo, seja ele um estilo “mulambento”, “mais ou menos” ou “nos panos”.

Enquanto alguns crentes sentem vergonha de andar com suas Bíblias na rua, outros sentem orgulho – demais. Orgulho da aparência mas não da essência. Pessoas que usam a Bíblia como uma espécie de “passaporte” que lhes garanta confiabilidade e recepção por parte de pessoas de bom coração e que precisam de consolo, ou como um preço de suborno para cativar a religiosidade alheia para seus propósitos egoístas, uma falsa “identidade”.

O papo está ficando complicado? Serei mais claro.

Como sou da área de Direito, estou farto de ver advogados, promotores e juízes que manuseiam a Bíblia de alguma forma. Se a tal lei que abole dos prédios públicos os símbolos religiosos entrar em vigor, duvido muito que contagie a tal ponto que se retirem das mesinhas dos fóruns as Bíblias que vivem bolando por cima delas; ou que intimide os militantes dos processos para que não usem e não tragam as suas.

Nos julgamentos, é comum vermos versículos disparados e passagens bíblicas aludidas em defesa de uma tese. Já vi defensores de réus claramente culpáveis os compararem a Jesus Cristo, a quem foi negada justiça, quando, na verdade, deveriam ter sido comparados a Barrabás: na inútil tentativa de persuadir os jurados a aderirem à sua versão dos fatos. Já vi advogados e promotores abrirem a Bíblia para citarem versículos que não existiam [Provérbios 26.9] ou para repreender quem os usa. E sabem vocês que às vezes as distorções da palavra de Deus passam por verdade, já que se presume que a maioria esmagadora da população não a conhece? E pior ainda: isso inclui os “evangélicos”.

Falhamos muito em não conhecer as Escrituras e o que elas ensinam. E, assim, nos tornamos alvo fácil para sermos manobrados por pessoas que costumam utilizá-la de forma torcida, com versículos e ensinos fora dos seus contextos. É assim que surge e se propaga boa parte das heresias.

Você já se perguntou por que as seitas usam a Bíblia na sua casa, quando não crêem no que ela realmente ensina? Para pegar você da mesma forma como eles foram pegos no engano: com decorebas, técnicas de persuasão, mentiras e obscuridades. Alguns adeptos de seita nem enxergam isso; outros apenas disfarçam por algum motivo egoísta, tais como: fazer dinheiro, construir uma reputação ou vender cacarecos.

Enfim... Certa vez, adeptos de uma seita vieram à minha casa e usaram a Bíblia para tentar me fazer acreditar em um outro suposto livro sagrado "revelado por Deus" a um "profeta" falecido estadunidense (pra variar...). Eles diziam ser "a religião certa", que as outras igrejas estavam “erradas” e eram do Diabo etc. Ou seja, aquela mesma ladainha de sempre.

Depois de ver que sua mensagem não tinha base bíblica (porque eu tinha derrubado as bases que me mostraram, provando-lhes o que as Escrituras realmente ensinavam), os "missionários" começaram a atacar a própria veracidade da Bíblia. 

Ora, mas se eles não criam na Bíblia e não achavam que ela era um livro importante, respeitoso e confiável, por que tentavam sustentar sua mensagem nela? Simples: para atrair os incautos que crêem na Bíblia, têm uma, mas não a conhecem!

Atenção: Se você não tem a Bíblia como alimento espiritual, como a palavra de Deus e como a Espada do Espírito; e se não a conhece e nem lhe dá a devida importância e cuidado; ela vai ser, para os outros, um passaporte, um veículo, um pretexto para uma mensagem errada chegar ao seu coração. Porque, se você não atenta para o que ela realmente ensina, demonstra que apenas se preocupa com a aparência do ensino, e paira na superficialidade. E precavenha-se: pessoas mal-intencionadas ou enganadas vão utilizá-la como cartão de visita e passaporte e para atacar a sua fé. E se você não tem competência e habilidade para defendê-la:

a) você poderá ser enganado; [1 João 2.21]
b) você não saberá quando está sendo enganado; [Atos 17.11]
c) você não poderá ajudar quem está enganado; [Judas 22,23]
d) você não poderá defender sua fé decentemente; [1 Pedro 3.15]
e) você está desobedecendo as Escrituras; [2 Timóteo 2.15]
f) e está pecando! [Mateus 22.29]

A palavra de Deus não é moda. A palavra de Deus nao é aparência. A palavra de Deus é a verdade e não passará, porém, a moda e as coisas deste mundo passarão. Portanto, não trate as Escrituras como “acessório” evangélico, pois ela deve fazer parte de seu coração, da sua vida, e é dela que vivemos! [Marcos 13.31]

Fico imaginando os fariseus com seus filactérios longos pendurados nas vestes. Para eles, a Bíblia era algo que ensorbebecia, algo a ser mostrado, “penduricalho religioso”. Será que nós somos diferentes deles? Será que andamos com algo que apenas atesta diante de nós, de Deus e do mundo o quão nossas vidas estão distantes de Deus? [Mateus 23.3,5]

Imagino, ainda, como Satanás, os falsos profetas e os anticristos sabem manejá-la bem para alcançar seus intentos. [João 8.44; 1 João 1.7; 2 Pedro 2.1; 1João 4.1] E oro a Deus que nos prepare e nos ajude para que sejamos melhores espadachins e servos fiéis na luta pela verdade! 

"Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus." - Mateus 4.4 

[Atualizado para correções em 11/03/2012]

2 de fevereiro de 2010

Culto, Uma Oportunidade de Comunhão

Por Pr. Almir Marcolino
No blog Meditações de um Peregrino.


No Salmo 122 o peregrino celebra a oportunidade de cultuar a Deus em Jerusalém, o centro do culto do crente na Antiga Aliança. Sua alegria começou no momento em que foi convidado para ir à Casa do Senhor, o templo que estava em Sião. Aquela alegria que inicialmente o atraiu é lembrada agora, depois que chegou, e faz com que ele esqueça os perigos, desconfortos e cansaço da viagem. Estava diante da recompensa, e dizia: valeu a pena!


Isto porque seus pés estavam agora firmes dentro dos muros da cidade que Deus havia escolhido como símbolo da Sua morada. O valor da cidade estava naquilo que ela significava, na função que Deus LHE designara. É isso que o peregrino canta na segunda parte do salmo.


A cidade foi edificada para ser um centro de comunhão. Esta idéia aparece no verso três, e tem sido traduzida como “compacta” ou “bem sólida”. Na língua original dois termos são usados. Um expressa a idéia de “ajuntado”, “reunido”, “em comunhão”, o outro de “estar unido”. A versão grega traduziu com um termo que indica sociedade, companheirismo, participação compartilhada. Jerusalém foi construída para ser um local de unidade e comunhão do povo de Deus, era o centro onde a comunidade se reunia e manifestava sua unidade. Esta união não quer dizer uniformidade, pois eram doze tribos que subiam. Havia uma diversidade. Cada tribo era uma tribo distinta. O que as unia era o fato de serem do SENHOR (verso 4). 


[Imagem: Changeman. Eles são toscos, têm uma indumentária de malha cafona, não foram paquitas e quase ninguém mais sabe quem são, mas eles têm uma lição a ser seguida pela igreja: apesar de viverem lutando, não lutam entre si e sempre vencem no final. E apanham muito sozinhos mas sabem que unidos são mais fortes (porque a bazuca só aparece se eles juntarem as armas, e o robô gigante só aparece se eles juntarem os veículos). O protestantismo parece ser exatamente o oposto mas não é - apesar de ter alguns toscos que juram que são os donos da "bazuca", do "robô gigante" e que vão vencer sozinhos... Mas eu já li  o "script" todo e sei que o final não vai ser assim.* ]


Um dia Deus vai restaurar a Jerusalém terrestre como local de adoração e comunhão de Seu povo (Is 2.3). Mas, hoje nossa comunhão se manifesta na Igreja, o templo que Deus está construindo na atual dispensação (Ef 2.19-22; 4.16). É na reunião com outros irmãos que celebramos a nova aliança (1 Co 11.25,33), que cultuamos nosso Deus com alegria (Ef 5.19; Cl 3.16).


Este culto deve ser momento de comunhão, não apenas com Deus, mas também uns com os outros. Na Igreja, pessoas diferentes foram unidas num corpo (1 Co 12.13). Apesar das diferenças elas têm muito em comum (Ef 4.4-6). Só que esta unidade demanda esforço, ela não ocorre automaticamente (Ef 4.3). A alegria é completada através da unidade (Fp 2.1-4).


A igreja primitiva manifestava esta unidade. Perseveravam juntos, conheciam as necessidades uns dos outros, ajudavam-se mutuamente, compartilhavam refeições, e participavam de momentos alegres em união (At 2.42, 44,46).


Em muitas igrejas isto não ocorre. As pessoas chegam para o culto já em cima da hora, ou até atrasados, participam dos cânticos, escutam a mensagem, doam suas ofertas, e saem correndo para casa, para suas atividades individuais. Não há interesse em conhecer os outros adoradores, desejo de saber de suas alegrias e tristezas, de compartilhar de suas necessidades, de se prontificar para ajudar os que precisam.


Algumas vezes a idéia demonstrada é mais de pessoas que vão a um mesmo cinema assistir o mesmo filme, no mesmo horário, do que de adoradores que vão manter comunhão com Deus e uns com os outros. Não podemos falar de nossas igrejas como um grupo compacto, sólido e unido.


Da mesma maneira que Israel testemunha ter um só Deus através da adoração num só lugar, nós testemunhamos que Deus enviou Jesus através da unidade (Jo 17.21), testificamos que somos seguidores de Jesus através do amor uns para com os outros (Jo 13.35), manifestamos que passamos da morte para a vida ao amar os irmãos (1 Jo 3.14).


Note quantos mandamentos no Novo Testamento são acompanhados da expressão uns aos outros, e conclua que o cristianismo é coletivo, comunitário, e não uma espiritualidade individualista. Quando for ao culto procure adorar também através da comunhão. Assim, o ir a casa do SENHOR será motivo de alegria para você e para Deus. Pois, Hebreus 13.16 diz Não negligencieis, igualmente, a prática do bem e a mútua cooperação (comunhão) ; pois, com tais sacrifícios, Deus se compraz.

* Legenda da foto por Avelar Jr.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...