30 de outubro de 2009

"Unção do Chulé"


Esse vídeo foi objeto de discussão numa comunidade do Orkut há algum tempo, a "Não Aguento Mais mantra Gospel".

Após assisti-lo, alguns irmãos comentaram:

"Essa atitude foi de inteira zombaria às pessoas presentes ... muitos q estão ali merecem isso (...)"

"Se eles [DT] quisessem realmente demonstrar algo honesto, a APV lavaria os pés de alguém da platéia."

"Isso é nojento. Do ponto de vista teológico, quanto do ponto de vista higiênico."

Pensei o mesmo quando vi. Quanta imundícia travestida de espiritualidade cristã! Ainda mais utilizando a imagem de um evento tão belo da Bíblia como aquele em que Jesus, o Senhor de todas as coisas, lava os pés de seus imaturos discípulos! Com essa atitude, ele ensinou, na prática, que devemos ser servos de todos, como ele o foi, imitando o exemplo dos escravos que lavavam os pés dos visitantes de uma casa da época.

Mas os integrantes da banda é que têm os pés lavados nessa encenação de "ato profético", o contrário do que Jesus ensinou. No fim das contas, o vídeo merece mais alguns comentários:

1. os feridos pela religião são eles mesmos, que querem ser uma geração apostólica que não podem ser, ao invés de se contentarem em ser simplesmente cristãos, até porque os apóstolos já morreram há muito tempo e deixaram o firme fundamento no qual eles não parecem se firmar;

2. eles falam sobre feridas causadas pelas críticas e juízos mas são os primeiros a não as ouvirem, para ver se elas têm ou não razão de ser, exigindo-lhes mudanças, a tal cura seria só um "Ai, eu estou triste porque me criticam, mas eu não estou nem aí, vou continuar fazendo o que faço, só não quero ficar chateado com isso" (Que cura conveniente, hein?);

3. o "profeta" não entende nada de Bíblia e mistura várias passagens de Gênesis a Apocalipse dando-lhes sentidos questionáveis;

4. o congresso chamado "de Louvor e Adoração" parece ser de louvor e adoração a eles próprios, uma vez que eles se colocam como representantes do povo que se sente ferido pela crítica quando nem todo mundo é tão sucetível a qualquer crítica como eles, que só podem ser elogiados;

5. a profecia não se cumpriu, porque, se eles dizem que aquilo é obra de Deus e por causa daquele ato profético não haveria mais tropeço para a obra de Deus, daí para cá só o que houve foi tropeço e escândalo, incluindo o ato em si, a questão é que sempre haverá escândalos, mas nada vai parar a igreja, contra quem as portas do inferno não podem prevalecer;

6. aquelas águas são "apostólicas" de onde? Da torneira da casa do apóstolo Paulo? Da bacia de lavar roupa da casa de João? Do pote pra fazer a faxina da "casinha" atrás da casa de Pedro? E qual seria mesmo a utilidade prática de uma "água apostólica"?

7. eles não têm poder de firmar pé de ninguém em rocha nenhuma porque nem eles próprios demonstram estar em rocha alguma, pelo contrário, são levados por todo vento de doutrina e nem parecem saber para onde vão, vivendo de visões contraditórias, moveres que não batem com as Escrituras, atos proféticos malucos e coisas do tipo, e até a algumas passagens que eles citam corretamente dão um tom que faz até parecer que é coisa nova (mas podem mesmo ser coisa nova para eles, não é?);

8. a igreja desde o princípio prevaleceu contra as portas do inferno, se não Cristo teria mentido, não vai ser dali que vai começar;

9. eles não podem conceder "rio de Deus" a geração alguma porque o rio de Deus estará na Nova Jerusalém, saindo do trono de Deus e do Cordeiro, e o Espírito Santo (que é figurado por "rios de águas vivas") é concedido pelo Filho, não por "profetas" que misturam passagens bíblicas (Jo 4.10; 7.38; Ap 7.17; 21.6; 22.1);

10. E por fim, mas não menos triste, veja que quando a água suja que lavou os pés dos artistas está sendo lançada contra a platéia que assiste essa marmota toda com a baba escorrendo nos beiços, o "profeta" grita "Receba o Rio de Deus!" E eu, então, pergunto: Por acaso o "Rio de Deus" é a água com o grude dos pés dos artistas desse show? Até como simbolismo é decadente e repugnante! É por isso que eles fazem todo esse frenesi e chororô sem lágrimas? Se é tão boa e santa essa água, por que eles mesmos não a beberam ou tomaram banho com ela, mas a lançaram na cara do povo depois de sujá-la com os pés?

Dá para entender agora por que eu me recuso a apoiar ou participar de certas coisas evangélicas? Muitas delas, além de não expressarem a fé que uma vez por todas foi entregue aos santos, são mais nocivas que proveitosas para os cristãos, conduzindo-os a enganos e desvios. Mas, mesmo assim, creio que podem ser usadas por Deus, além de serem bastante aproveitadas pelo diabo, que adora misturar a verdade da palavra de Deus com mentiras e distorções, como ele fez no Éden.

Congresso de quê?! Não, Obrigado! Prefiro ter comunhão com a igreja e ler a Bíblia mesmo.

- Editado para correções em 15/12/2012.

27 de outubro de 2009

Religiões. Comédia Stand Up.



Vídeo dedicado à minha Leitora Fantasma favorita, conforme prometido.


Se Deus quiser, um dia você vai deixar seu rastro de fogo, supersonicamente falando, nas estradas ladeadas da caatinga verdejante, com seu fusquinha conversível de bolinha envenenado, sentindo o vento nos cabelos e ouvindo Britney... digo, Maria Rita. Apenas não desista de sonhar, você chega lá!


Obrigado pela audiência ectoplasmática da sua pessoa.


Atenciosamente.


Vídeo copiado de VeshameGospel

25 de outubro de 2009

A Estranha



Pouco depois que eu nasci, meu pai encontrou uma estranha, recém-chegada a nossa cidadezinha no Texas. Desde o início, ele ficou fascinado com essa encantadora novata, e logo convidou-a a morar com nossa família. A estranha foi rapidamente aceita e sempre estava conosco desde então.


Enquanto crescia, eu nunca questionei o lugar dela na minha família. Na minha mente jovem, ela tinha um nicho especial. Meus pais eram instrutores complementares: minha mãe ensinou-me o certo e errado, e meu pai a obedecer. Mas a estranha... era nossa contadora de histórias. Ela nos deixava enfeitiçados por horas a fio com aventuras, mistérios e comédias.


Se eu quisesse saber alguma coisa sobre política, história ou ciência, ela sempre sabia as respostas sobre o passado, entendia o presente e até parecia poder prever o futuro!



Ela levou a minha família para o primeiro grande jogo da liga de futebol, fez-me rir e chorar... A estranha nunca parava de falar, mas meu pai não se importava.



Às vezes, mamãe acordava calmamente enquanto nós silenciávamos uns aos outros para ouvir o que a estranha tinha a dizer; e minha mãe ia à cozinha para ter paz e tranquilidade. (Agora pergunto-me se ela nunca rezou para a estranha ir embora.)



Papai governava nosso lar com certas convicções morais, mas a estranha nunca se sentiu obrigada a honrá-las. Palavrões, por exemplo, não eram permitidos em nossa casa: nem de nós, nem dos nossos amigos ou visitantes. Nossa antiga moradora, no entanto, saía com cada coisa que queimava meus ouvidos e fazia meu pai sobressaltar-se e minha mãe corar.



Meu pai não permitia o uso liberal de álcool, mas a estranha nos incentivava a experimentá-lo regularmente e fazia cigarros parecerem legais, charutos másculos e cachimbos requintados.



Ela falava livremente (livremente até demais!) sobre sexo. Seus comentários eram, por vezes, explícitos; outras vezes, sugestivos; e, geralmente, embaraçosos. Agora sei que meus primeiros conceitos sobre relacionamentos foram fortemente influenciados pela forasteira.


De vez em quando ela se opunha aos valores dos meus pais – e raramente era censurada... E nunca foi convidada a se retirar.



Mais de cinquenta anos se passaram desde que ela chegou ao nosso lar. Ela se adaptou perfeitamente mas não é mais tão fascinante quanto parecia logo que chegou.



Mesmo assim, se você der um pulinho na casa de meus pais hoje, você ainda irá encontrá-la assentada no seu canto, esperando alguém para ouvi-la falar e vê-la mostrar suas imagens. 


Ah, o nome dela? Nós a chamamos de “TV”.


E agora ela achou companhia, a quem chamamos de “Computador”.




Por Bobby.
"The Stranger", traduzido e adaptado por Avelar Jr.
Publicado originalmente no Blog Christian Humor

20 de outubro de 2009

N' Sei o quê, n' sei o quê lá...

Eu adoro assistir a esquetes e quadros humorísticos na televisão. Mas dificilmente eu acho algo realmente interessante, criativo ou engraçado na TV, eu sou mais YouTube. Um quadro de que eu gostava bastante retratava uma garota que conversava com a mãe sobre sua vida de adolescente com um vocabulário típico, repleto de gírias de rolar de rir.

Fato é que o quadro foi tão bem-sucedido que o linguajar da garota terminou por influenciar garotos um pouquinho grandes demais, e essa influência chegou a lugares inconvenientes e inusitados.

[Foto: Heloisa Perissé interpretando Tati, a adolescente bastante descolada que "estragou" o linguajar de muita gente séria e nos trouxe boas gargalhadas.]

Calor de matar. A sala e os bancos eram insuficientes para apertar duas turmas da faculdade na sala de vídeo do campus. A palestra, pelo menos, era interessante, na área de Direito Ambiental. A sala, com pouca luz, favorecia as conversas paralelas dos colegas, que nunca viam os que estudavam no outro turno e aproveitavam para pôr o papo em dia.

Palestra rolando, conversas por bilhetinhos e risadinhas paralelas: nada que pudesse se comparar a estranheza do debatedor que roubou a fala do palestrante para “traduzir” para o grupo de ouvintes de dezenove a cinquenta e tantos anos o que acabara de ser dito.

Esse cara beirava os quarenta anos, e, na expectativa, todos silenciaram, julgando que o que ele iria dizer seria mais importante. E ele começou: “Bom, galera, tipo assim: eu acho que cês tão pensando que biota, sabe, é uma coisa tipo sei o que sei o que lá, sei o que sei o que lá...” – Juro, foi difícil conter a gargalhada diante de uma palestra dessa para a universidade. No outro dia só se falava das expresões adolescentes do rapaz, tiradas da esquete da menina do Fantástico. E o pobrezinho, virou motivo de brincadeiras e piadas de corredor por semanas.

Outro dia, lembro-me de que estávamos na calçada do fórum quando um colega meu estava dando explicações sobre a decisão de um juiz dentro de um processo para pessoas notoriamente rurais. Ele dizia que “a fim de que o réu não fosse lesado, o juiz...” Nesse instante, eu percebi, pela fisionomia, que o rapaz não entendeu a frase (ele estava rindo), e interrompi meu colega para explicar, “ele quis dizer, que, para não prejudicar a outra parte... ‘Lesado’ aí não quer dizer ‘abestado’, quer dizer ‘prejudicado’”. Meu amigo me agradeceu, pediu desculpas ao rapaz, percebeu que tinha que evitar termos usuais do foro com os leigos e todos saímos felizes porque houve comunicação efetiva e no mesmo nível.

Também lembro-me de que estávamos numa assembleia ordinária, certa vez, decidindo um assunto simples mas que causou divergências. E um irmão, descontente porque sua proposta não foi endossada por várias pessoas, irado, desferiu um “Vocês não concordam porque vocês são uns hereges!” Nisso, todos começaram a olhar uns para os outros sem entender o que ele quis dizer, e riram, visto que o assunto não era doutrinário. Então, um dos jovens lhe replicou: “Olha, irmão, não venha chamar os outros de hereges, não! Porque você nem sabe o que isso significa!” Ao que ele rebateu, para a gargalhada geral: “Sei, sim! Herege é quem vai pela cabeça dos outros!” – Novamente foram semanas de brincadeiras entre os jovens: “Homem, você é um herege... Porque vai pela cabeça dos outros”...

Esse texto é apenas para chamar a atenção para algo simples e muito importante: comunique, não apenas fale.

Nós temos uma mensagem para comunicar: o evangelho da salvação; temos um interlocutor: toda criatura; temos um local de trabalho: o mundo; temos uma missão: fazer discípulos e ensiná-los a guardar tudo o que Jesus nos tem ensinado; temos um Senhor, que está sempre conosco e nos ajuda em nossa incumbência: Jesus Cristo. - Mateus 28. 18-20

Devemos fazer com que essa mensagem chegue a todos, e, para tanto, vamos transmiti-la de modo claro, simples, para que o nosso ouvinte possa compreendê-la perfeitamente. Evite “jargões gospel” vazios e desnecessários, que podem atrapalhar ou fazer com que as pessoas se sintam excluídas, menosprezadas ou confusas. Vamos falar a língua dos outros, mas sem tratá-los como retardados ou inferiores. E nunca nos esqueçamos de usar um linguajar sadio, de usar palavras cujo significado seja conhecido por nós e pelos nossos interlocutores. É importante também conhecermos o peso e conveniência que as palavras têm em determinados contextos e estarmos preparados para questionamentos eventuais.

A falha em ser um cristão autêntico pode fazer com que sua mensagem caia em ouvidos moucos e com que a mensagem da cruz seja blasfemada, pois o que você fala deve estar em perfeito compasso com o que você pratica, e em sintonia com a palavra de Deus. Seja sua vida – e não apenas suas palavras – a mensagem.

Não me lembro de nada do conteúdo da palestra sobre Direito Ambiental daquela tarde, só das gírias engraçadas e dispensáveis. Mas, com aquele rapaz, aprendi algo bastante útil: adapte seu vocabulário a quem você está falando na medida da necessidade e no contexto correto. E não subestime seu interlocutor, caso contrário o tonto imaginário pode ser você - e isto, tipo assim... ninguém merece!

Se pluga! ;)


Passagens bíblicas úteis:

Mt 28. 18-20;
Atos 2.6;
1Co 14.19;
Ef 4.29;
Cl 3.8;
1 Tm 4.12;
Tt 2.7-8;
Tg 1.19;
1Pe 4.11.

[Atualizado em 20/06/2011 para correções]

15 de outubro de 2009

Cristianismo: o rabi e a história - De volta ao caminho

Por Leonardo Gonçalves
Fonte: Púlpito Cristão


Há muito tempo, no oriente próximo, um jovem de conduta afável, filho de um carpinteiro de Nazaré, iniciou um ministério itinerante, e com uma mensagem desafiadora, em pouco tempo logrou subverter as classes mais humildes do território de Israel. Em seus discursos, falava sobre justiça social, reforma religiosa, compromisso ético e espiritualidade. Falava também na inauguração de um reino que, embora futuro, já se fazia presente no meio daquela gente.

No entanto, apesar da relevância dos temas supracitados, o tema mais maravilhoso (e escandaloso!) abordado pelo jovem rabi diz respeito a abolição da lei como meio de aproximação de Deus. Ele oferecia a promessa de perdão, amor, bondade e favor divino à pessoas que, definitiamente, não mereciam. Realmente o discurso daquele rabi era muito estranho, de modo que despertou não só a atenção das autoridades da época, como também muito os preocupou. Ele chegou a afirmar que o Templo (sim, justo o templo!) dos judeus seria derrubado e que em Jerusalém não ficaria pedra sobre pedra. Ao ouvir isso, os lideres religiosos decidiram que já não podiam tolerar as ideias revolucionárias daquele jovem; ele se tornara um inimigo da religião, e era um perigo para o culto institucionalizado. Por fim, planejaram matar-lhe.

Creio que o leitor conhece os pormenores da história acima e sabe perfeitamente de quem estamos falando. Porém, chama-me a atenção o fato de que Jesus enfrentou os líderes religiosos e ganhou deles o ódio justamente por apresentar oposição a um sistema intitucionalizado que queria ter o monopólio sobre Deus. Ele era considerado subversivo porque dizia que não era em Jerusalém o local onde se deve adorar, mas em espírito e em verdade. Ele sofria retaliação porque dizia que não era necessário guardar centenas de ordenanças para encontrar a Deus. A suma da lei era: Ama a Deus e ama o teu irmão. Ele descomplicou as coisas para nós. Ele tornou tudo mais simples!

Há em nossos dias uma tendência a complicar tudo aquilo que Jesus simplificou, e adotar tudo aquilo que Ele aboliu. Não contentes com a graça barata, com a graça de graça, os homens desejam comprar de Deus o favor, mediante sacrificios financeiros, comércio de objetos sagrados e até mesmo horas de oração em montanhas “sagradas”. Imitam a saga dos profetas do Antigo Testamento e esquecem-se que os apostolos trilharam um caminho muito melhor!

Até a propria igreja (templo) tem se transformado em objeto de idolatria. Não quero com isso levantar-me contra as instituições. No mundo moderno, entendo que elas são um mal necessário. O problema é que a igreja tem deixado de ser um meio para tornar-se um fim em si mesma. Aliás, cristianismo hoje em dia está relacionado principalmente com aquelas duas horas de culto semanal. Chamamos isso de comunhão: Quem vai na igreja, está em comunhão; quem não compareceu no templo, não teve comunhão. Ora, isso é ridículo! Cristianismo não é uma vida obstinada dentro de quatro paredes. Cristianismo é um serviço no mundo. É envolver-se com pessoas num relacionamento sadio, no qual o caráter de Cristo pode perfeitamente transparecer nas nossas atitudes. Isso é adoração. Isso é culto a Deus, e comunhão com Ele e com o próximo.


Cristianismo trancende a cultura. Ele não é limitado pelas regras de vestuário que a sua (ou a minha) igreja dita. Isso são costumes humanos; cristianismo é uma proposta transcultural.

Cristianismo trancende a religião. Deus não é uma marca patenteada pela sua denominação. Houve ao longo da história da igreja vários grupos que se distanciaram da igreja institucionalizada, mas nem por isso deixaram de ser “Igreja”. Na época eles foram taxados de hereges, mas hoje reconhecemos o valor desses movimentos.

Cristianismo transcende a geografia. Ele não está confinado em um edifício, nem aprisionado num estatuto denominacional. A sua igreja não é a última bolacha do pacote, e apesar do fato de que alguns ramos do cristianismo se distanciaram demais daquele cristianismo original, é possível achar pessoas sinceras dentro (e fora!) dessas instituições. Além do mais, quem afirma que não há salvação fora da igreja (instituição) são os católicos. Há salvação fora da igreja, desde que seja em Cristo.

A verdade é que nos distanciamos tanto daquela proposta de Cristo, que aqueles que – ao meditar nos evangelhos decidem voltar à estrada original, são acusados de heresia. Vagamos tão distantes da fé primitiva que qualquer que quiser, em semelhança aos apóstolos e profetas do passado, denunciar os abusos cometidos pelos sacerdotes corruptos, sofrerá retaliações. E estes, caso queiram permanecer nesta senda, deverão estar dispostos a enfrentar o rechaço daqueles que, em nome de uma paz ilógica e covarde, pecam por omissão para manter o status quo.

Há mais de dois mil anos aquele jovem rabi, filho de carpinteiro, morreu crucificado. Hoje, aqueles que dizem ser seus seguidores, crucificam os seus ideais. A graça é banida, o Reino olvidado, a justiça social esquecida, e a religião é usada como um meio de enriquecer os espertos e alimentar a avareza dos ignorantes. Não obstante, haverá um dia em que o rabi voltará, e julgará a cada um conforme as suas obras. Portanto, avalie o homem a si mesmo, aplaine seus caminhos, saia de dentro do armário e assuma o seu papel no corpo de Cristo. Não sejamos cristãos apenas de títulos; sejamos cristãos em obra e em verdade.

11 de outubro de 2009

"MAILER-DAEMON"

Dia desses abri uma de minhas caixas de e-mails e vi um spam pseudorreligioso; daqueles que de vez em quando aparece na caixa de entrada, junto com os spams “normais”. Foi algo realmente indesejado repassado por uma amiga (são sempre as mulheres que mais repassam isso...).

Dificilmente marmotas religiosas eletrônicas são criadas para você em primeira mão: se você reparar bem, normalmente o spam é um arremedo virtual de quinta categoria de Satanás. Você pergunta a ele:

- “Donde vens, Ó, spam religioso?”

E ele te responde por meio dos blocos de CC (Cópia Carbono) do topo do e-mail:

- “De rodear a internet e passear por ela”.

Spam é uma coisa chata, atrevida, impertinente. Mas spam pseudorreligioso, além de tudo isso, pode ser demoníaco!

Só para dar um exemplo de por que uso este adjetivo tão “pesado”: o e-mail que recebi (e que me motivou a traçar essas linhas) é uma falsa profecia que se passa e repassa irrefletidamente para os amigos:

“Deus me disse pra dizer para você que vai dar tudo certo”.

- Tudo o quê?

Seu amigo está pensando “Eu ainda mato essa sogra cascavel!”, e recebe este bálsamo eletrônico: “Deus garante para você: vai dar tudo certo”... Ele pensa: “Graças a Deus essa véia vai pro saco. Aleluia, Sin'ô!”



Um amigo está de quarentena com gripe suína e "bate as botas" (segundo o Governador Serra, no vídeo acima, ele pode ter pegado isso depois de ter brincado com um porquinho resfriado. E ele está coberto de razão porque é médico e estudou para dizer isso mesmo. Ao contrário de você, que é despeitado!).

Mas onde fica a garantia divina que você mandou por e-mail de que vai dar tudo certo, se você foi apenas no botão “encaminhar” e metralhou o endereço de suas vítimas no campo apropriado sem ter ouvido nada de Deus?

Estúpidos os exemplos, não são? Mas será que muito mais estúpido não seria repassar aos amigos e desconhecidos mensagens do tipo “Deus me mandou dizer isso para você” (curto e grosso: uma profecia falsa usando o nome de Deus) sem que ele efetivamente tenha lhe mandado?

O negócio queima ainda mais o filme quando vem de uma pessoa que se diz cristã e que afirma conhecer a palavra de Deus, amá-lo e obedecê-lo, pois ninguém espera de gente assim que ande com “profetadas”.

Pode parecer exagero de minha parte ter usado aquele adjetivo. Ou não. No trecho bíblico abaixo, em que Deus condena os falsos profetas, ele não abre descontos para e-mails:


Porém o profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe não mandei falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta será morto. Se disseres no teu coração: Como conhecerei a palavra que o SENHOR não falou? Sabe que, quando esse profeta falar em nome do SENHOR, e a palavra dele se não cumprir, nem suceder, como profetizou, esta é palavra que o SENHOR não disse; com soberba, a falou o tal profeta; não tenhas temor dele.” – Deuteronômio 18.20-22
(V. tb. Jeremias 23 e 29)


Lembre-se: “Profetada”, profecia falsa, é mentira. Mentira, falso testemunho, continua sendo condenável pelo Deus verdadeiro, o qual não muda e não permite que seu Nome seja tomado em vão para palhaçadas, e-mails chinfrins ou para fazer média com amigos.

Nada contra incentivar a fé em Deus, alimentar o entusiasmo e estimular a ver as coisas positivamente. Mas falsas esperanças e falsas profecias definitivamente não estão entre os métodos de que os cristãos devem se valer para ajudar os outros. E, principalmente: devemos ter o máximo temor e reverência pelo nome de Deus e pela sua palavra, pois nosso Deus é zeloso e demanda de nós compromisso, verdade e santidade. Deus castiga a quem ama, mas castigo não é bom, se não se chamava "prêmio" e não "castigo". Então prometa a você mesmo que da próxima vez que for brincar de "passa ou repassa de e-mail gospel" vai prestar atenção no que está mandando e nas implicações desse ato.

O mais interessante no e-mail de que falo era a superênfase no egoísmo e no materialismo, não na glória de Deus. Daí nem me maravilhei de a mensagem ser tão vã quanto era mentirosa. E agora não sei como faço para responder à pessoa. Alguém me ajuda, ou é só crer que se eu responder com este texto vai dar tudo certo? E pior é que e-mails maus como aquele o "Mailer-Daemon" não devolve para quem manda...

7 de outubro de 2009

A Coca-Cola do Google

[Imagem: urso com olhar hipnótico e sorriso de Monalisa da "Pepsi" e suas crias sendo envene... digo, participando da propaganda do câncer de mama ursulino, que o Orkut está promovendo subliminarmente.]


Era uma vez o Orkut, o ilustre desconhecido por mim ignorado e que já estampava a capa da revista Superinteressante. Pois bem, naquela época eu era dos reles plebeus que não haviam recebido convite e tampouco tinha interesse algum em saber que diabos era aquilo. Ao mesmo tempo havia um amigo meu, colega de trabalho, que vivia implorando a todos os que estivessem na rede, ou que tivessem um amigo que estivesse, que mandassem um convite para que ele pudesse entrar.

Dias depois ele chega festejando no trabalho:

- Entrei no Orkut!

Mais alguns dias depois, a gente conversava e eu lhe perguntei o que estava achando da rede. Com cara de decepcionado, ele me respondeu:

- Eu saí. Não entro naquilo ali nunca mais.

Imaginei o monstro que deveria ser esse Orkut. O que teria lançado em poucos dias meu colega tão ansioso e empolgado, quase de quarentena no Nirvana, naquele poço Renato-Rússico de decepção.


Deixe estar. Meses depois, eu, relutantemente, recebi um convite e entrei para o Orkut. Meu perfil não tinha foto, então eu pus a foto de uma coruja. Eu gosto de corujas, elas parecem bonitas, modernas e inteligentes. E algum tempo depois pus minha foto. Um dos primeiros recados que eu recebi era de que a foto da coruja estava melhor, o que certamente foi retribuído com piadinhas posteriores e um “vá pentear macaco” de minha parte.

Enfim, naquela época era tempo de curtir o brinquedo novo, e, como todo mundo, adicionar pessoas, xeretar perfis (que retribuiriam a xeretada também), e entrar naquelas quinhentas comunidades que se entra para se parecer descolado, antenado e divertido. E a gente sempre olhava os amigos online naquele perfil multicolorido em que você preferia se esconder para não ter que dar uma desculpa de por que não respondeu os recados estando online.

Mas o Orkut também tem suas tosqueiras porque “de perto ninguém é normal”. E zigue-zagueando pelos perfis, facilmente você encontra "pérolas" como patricinhas, mauricinhos e emos que participam de comunidades tipo “Eu leio Nietzsche” e “Marx”, que jamais leram qualquer livro deles, estando nelas apenas para parecerem inteligentes e revolucionários contra a sociedade judaico-cristã capitalista e ocidental pós-moderna anti-imperialista.

O orkut é um fanfarrão, não é? Certamente você já deve ter feito o joguinho do “aposto que não tem uma comunidade sobre isto” e – Pimba! – você se depara com uma comunidade dessa coisa “with lasers”.

Dercy Gonçalves, coitada, já morreu, mas ainda deve ter perfil e postar em algumas comunidades, tamanha a invasão dos fakes desde que o Orkut escancarou-se e abriu-se para todo mundo sem convite. Você lembra os sites que distribuíam convites para entrar? O Orkut acabou com os atravessadores.

O Orkut é uma coisa psicotrópica para alguns. Para outros é uma piscina. Para outros é mais uma das artimanhas d'O Grande Irmão. Ele faz as pessoas se desperdiçarem, se exporem, perderem a noção, esquecerem-se do tempo, adoecerem e convalescerem diante de uma telinha de aspecto retrô que as mantém na existência virtual em contato com os outros, trocando recadinhos ou informação.

Um amigo concurseiro me disse há dias que um edital de concurso público colocou na lista de bibliografia a Wikipédia. "Em breve será o Orkut" - disse eu. Não entendo porque se o negócio era avacalhar o azulzinho não saiu na frente. Afinal, o Orkut deveria ter a primazia da avacalhação e da criminalidade – sempre. Afinal ele não é tão Facebook ou My Space, também não é miúdo e sem graça como o Twitter, mas é uma Coca-Cola!

Voltando às marmotas do Orkut: O pobrezinho, junto com o seu comparsa MSN, é um dos indiciados no inquérito educacional de "lusicídio": o assassinato da língua portuguesa. E não faltam evidências. Quer desaprender a escrever? Dê um passeio nas comunidades orkutianas. A criminalidade linguística é tão aterrorizante que os professores de português mais fortes chegam a sentir dúvidas quanto a tudo o que aprenderam. Você já faz "login" abaixado, para não ser atingido de cheio por uma palavra perdida e precisar ser socorrido por uma nebulização de dicionário ou uma internação na ala de Terapia de Gramática Intensiva.

Na minha opinião, deveriam criar um sistema de segurança interna para garantir a idoneidade da língua naquele ambiente bélico, sob pena de termos aumento vertiginoso de flagrantes de lusicídio em blogs do tipo "FAIL", "Owned"... perpetrados pelos gendarmes de plantão.

Outra coisa interessante do nosso Orkut é que eles puseram cadeado para as fotos. É uma boa porque poupa nossa intimidade, mas é mau porque tem muita coisa hilária por aí que a gente está perdendo, como aquelas fotos toscas de gente sentada na privada, supermaquiada ou mal-vestida fazendo caras e bicos para o espelhozinho do banheiro com uma câmera Brittania na mão, comprada em 10X sem juros no carnê da Insinuante.

E os perfis? 90% deles são basicamente a citação “eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter...” ou compilações de versos, estrofes, frases feitas... Eu entendo, a criatividade simplesmente flui.

Eu entrei, faz tempo, numa comunidade sobre perfis originais, e tinha um tópico para dar notas a quem se candidatasse. Vi dois perfis e os avaliei com notas médias, porque o perfil exige uma descrição de quem você é, e num deles a menina desabafou suas amarguras e falou de um pé na bunda que tinha levado e das consequências para a sua vida (em "miguxês" e rosa-choque) – isso é o que fizeram com você e não quem você é, portanto, dei nota mais baixa. Depois a menina me avaliou de volta com uma nota baixa porque, segundo ela, eu só disse quem eu era e isso era "previsível demais". Eu não sabia que eu poderia pôr o resumo do Imposto de Renda ou a bula de um medicamento num espaço onde você deve decrever quem você é. Outra pessoa disse que meu perfil não era nada emotivo -- e me deu um 6! -- Eu não tinha reparado que era concurso de redações dramáticas, pensei que estava em avaliação a originalidade. Bom, era cultura demais para mim. Eu larguei mão daquilo.

Você lembra do "carma" (legal, confiável e sexy)? Pois é, quando eu entrei era mais supersexy que legal, o que me deixou confuso, mas o pastor da minha igreja era “0% sexy”, ou seja, respeito pastoral ainda existia. Mas muita gente besta e antipática que eu conhecia era mais legal que eu no carma. Eu não me conformava com isso. Mas o mundo muda. Eu dei a volta por cima e voltei a sorrir. Eu e meus amigos combinamos de votar nas pessoas mais feias que conhecíamos como supersexy. Peraí, agora juntando isso eu concluí que... Deixa para lá porque isso foi depois.

Enigmas orkutianos: Eu queria saber por que ele já passou pela fase alfa e estancou na beta, talvez beta seja o fim do alfabeto grego para o Google; por que só tem design modificado em carnaval e olimpíadas; por que não permite que você escolha a cor de seu perfil; por que as pessoas adicionam seres humanos com os quais não têm nem querem ter relação alguma; por que quando você conhece uma pessoa está mais interessado em conhecer o orkut dela que ela própria; por que o orkut não faz uma caça aos fakes, aos perfis de pessoas jurídicas e aos spammers...

Você lembra que, no começo, quando os recados eram abertos a todos a gente ficava juntando as conversas das pessoas e acompanhando os arranca-rabos e os diálogos? Não? Então era só eu? Er... Mudando de assunto...


[Imagem: uma quebra do terceiro mandamento combinada com blasfêmia, enlatada e com o uso de nome próprio iniciado com letra minúscula -- e ainda por cima com limão. É pecado e engorda. Repare: "guaraná" é escrito em letras garrafais, apesar de ser não ser numa garrafa; e "Jesus", em minúsculas, apesar de ser Deus.]

O Facebook é melhor em muitos aspectos e tem um monte de coisinhas legais que agora o Orkut também tem, mas, para mim, Facebook é uma gringolândia que eu “não curto”. Não é tão legal quanto o Orkut; e não é tão Britney Spears mascando Ploc quanto o Hi5; e, creio, não tem tanta popularidade no Brasil. É por isso que eu digo que o Orkut é uma Coca-Cola: podem inventar algo melhor ou igual, mas não vai levar a preferência nacional.

A Coca-Cola é gostosa mas também causa cáries e outros problemas. Assim, sendo o Orkut delicioso, não me maravilho de ver que alguns ainda o deixem com um sorriso amarelo e meia-dúzia de arrotos, enquanto meus megabytes ainda estão navegando na piscina azul e rosa retrô com cara de Guaraná Jesus do grupo Google.

3 de outubro de 2009

O velho, o menino e a mulinha


O velho chamou o filho e disse:
- Vá ao pasto, pegue a mulinha e apronte-se para irmos à cidade, que quero vendê-la.
O menino foi e trouxe a mula. Passou-lhe a raspadeira, escovou-a e partiram os dois a pé, puxando-a pelo cabresto. Queriam que ela chegasse descansada para melhor impressionar os compradores.
De repente:
- Esta é boa! - exclamou um visitante ao avistá-los. - O animal vazio e o pobre velho a pé! Que despropósito! Será promessa, penitência ou caduquice?...
E lá se foi, a rir.
O velho achou que o viajante tinha razão e ordenou ao menino:
- Puxa a mula, meu filho! Eu vou montado e assim tapo a boca do mundo.
Tapar a boca do mundo, que bobagem! O velho compreendeu isso logo adiante, ao passar por um bando de lavadeiras ocupadas em bater roupa num córrego.
- Que graça! - exclamaram ela. - O marmanjão montado com todo o sossego e o pobre do menino a pé... Há cada pai malvado por este mundo de Cristo... Credo!...
O velho danou-se e, sem dizer palavra, fez sinal ao filho para que subisse à garupa.
- Quero só ver o que dizem agora...
Viu logo. O Izé Biriba, estafeta do correio, cruzou com eles e exclamou:
- Que idiotas! Querem vender o animal e montam os dois de uma vez... Assim, meu velho, o que chega à cidade não é mais a mulinha; é a sobra da mulinha...
- Ele tem toda razão, meu filho; precisamos não judiar do animal. Eu apeio e você, que é levezinho, vai montado.
Assim fizeram, e caminharam em paz um quilômetro, até o encontro dum sujeito que tirou o chapéu e saudou o pequeno respeitosamente.
- Bom dia, príncipe!
- Porque prícipe? - indagou o menino.
- É boa! Porque só príncipes andam assim de lacaio à rédea...
- Lacaio, eu? - esbravejou o velho. - Que desaforo! Desce, desce, meu filho e carreguemos o burro às costas. Talvez isso contente o mundo...
Nem assim. Um grupo de rapazes, vendo a estranha cavalgada, acudiu em tumulto com vaias:
- Hu! Hu! Olha a trempe de três burros, dois de dois pés e um de quatro! Resta saber qual dos três é o mais burro...
- Sou eu! - replicou o velho, arriando a carga. - Sou eu, porque venho há uma hora fazendo não que quero mas o que quer o mundo. Daqui em diante, porém, farei o que manda a consciência, pouco me importando que o mundo concorde ou não. Já que vi que morre doido quem procura contentar toda gente...


Monteiro Lobato


- A clareza do texto dispensa comentários.

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