27 de outubro de 2011

Sorriso amarelo


"Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita ousadia no falar." - 2 Coríntios 3:12

Às vezes falamos do céu e de Jesus para nossos amigos, familiares ou estranhos como se fossem algo excelente. De fato são, claro. Mas se somos questionados sobre se toparíamos partir desta vida e estar lá agora mesmo, titubeamos e até dizemos - depois de um sorriso amarelo por não termos sido categóricos - que sim. Alguns de nós ainda somos capazes de argumentar sobre por que ainda temos de permanecer por aqui mais um pouquinho, para justificar nossa hesitação.

Com tamanha convicção para falar com os outros sobre nossa esperança, não admira que muitos por aí nem queiram mesmo pensar no céu como algo que se deva desejar urgentemente, nem com um relacionamento eterno com Deus como algo que se deva buscar agora. Será que não imprimimos nos outros a sensação de que isso é assunto para leito de morte ou pessoas muito idosas?

No fundo, muitas vezes julgamos nossa vida e as coisas que temos neste mundo como mais importantes que nossa pátria celestial e que a vontade de nosso Senhor, mesmo que não queiramos assumir. Somos craques em mentir para nós mesmos, para que não nos convençamos que não somos tão espirituais quanto deveríamos ser. Então não devemos nos espantar de que as pessoas ao nosso redor pensem da mesma forma que vivemos diante delas: que falar do céu é como falar do nosso caixão... provavelmente quem vai escolhê-lo são os outros, porque já teremos "batido as botas"; ou... não devemos dar tanta atenção a isto, já que vai acontecer daqui há um "zilhão" de anos, e nós ainda não estamos velhos.

Os melhores vendedores que conheço apesentam muito bem seus produtos e a si mesmos, acreditam na sua empresa e nos produtos que recomendam, os quais, obviamente, utilizam, e zelam pela própria credibilidade e pelo seu encargo. Ou fingem descaradamente. Como esta última não é uma opção para cristãos, creio que fazemos todo o bem em anunciar as boas novas com entusiasmo, convicção, sinceridade, preparo e zelo, da mesma forma como devemos vivenciá-lo em nosso dia a dia.

Como conseguiremos conquistar as pessoas para Cristo e levá-las a reconhecer que, de fato, temos algo tão bom para oferecer-lhes, se não parecemos ter nossa vida alicerçada na esperança do evangelho como se ele fosse o nosso próprio alimento ou o coração que impulsiona os nossos corpos? 


"Vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas. Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória." - Colossenses 3:1-4

20 de outubro de 2011

Jacob Riis, uma luz na fotografia


"Vocês são a luz do mundo... Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, 
para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, 
que está nos céus". Mateus 5:14a, 16

Neste semestre da faculdade, estudando vários fotojornalistas famosos, deparei-me com um, em especial, que me chamou a atenção: chama-se Jacob Riis (1849 – 1914), um fotógrafo cristão que deixou sua fé influenciar positivamente seu trabalho. Ele ficou marcado na história como um dos fundadores do fotojornalismo e de toda uma escola de profissionais empenhados em usar a fotografia para intervir sobre a realidade social. Além disso, é conhecido por ser o pioneiro no uso do flash na fotografia.

Riis e o Jornalismo

“...pois o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade.” Efésios 5:9b

Nascido na Dinamarca, numa família grande e pobre, Jacob Riis desde cedo foi influenciado por seu pai a ler e aprender inglês, esperando que tivesse uma carreira literária. Mas ele queria, na verdade, ser um carpinteiro e emigrou para a América em 1870, aos 21 anos, com esse objetivo. Contudo, para a maioria dos imigrantes, as coisas não eram tão fáceis, e Riis sentiu na própria pele a pobreza e o preconceito. Somente em 1873 conseguiu um emprego razoável, numa agência de notícias, a New York News Association. Depois disso ainda trabalhou brevemente como editor em dois pequenos jornais da cidade, e, quatro anos depois, tornou-se repórter policial do New York Tribune.

Durante esse tempo como repórter policial, Riis trabalhou nas favelas mais violentas e pobres da cidade e pôde escrever relatos de primeira mão das indignidades e injustiças na vida dos imigrantes. Através de suas próprias experiências, ele decidiu fazer a diferença. Com seu estilo de escrita melodramático, ele tornou-se um dos primeiros jornalistas reformistas, que não apenas registravam os acontecimentos, mas usavam seu trabalho como ferramenta de mudança social.

Riis e a Fotografia

“Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, 
porque são feitas em Deus.” João 3:21

“Uma imagem vale mais do que mil palavras.” Este ditado popular começou a fazer sentido na vida de Jacob Riis. Há algum tempo ele vinha procurando um meio de mostrar a miséria mais vividamente, principalmente depois de ter sido acusado de exagerar na sua descrição. Foi quando recorreu à fotografia, uma arma de persuasão que superava o poder das palavras.

Autodidata, Riis documentou, durante cerca de dez anos, favelas, guetos de imigrantes miseráveis em condições de semi-escravidão e sem o mínimo de condições sanitárias. Suas fotos, chocantes para a época, ajudaram a mobilizar a opinião pública em favor de leis relativas à educação, trabalho e moradia. Em 1884, por exemplo, conseguiu que fosse formada uma comissão para tratar dos problemas de habitação, a Tenement House Commission.

Riis e o flash fotográfico

“Mas, tudo o que é exposto pela luz torna-se visível, 
pois a luz torna visíveis todas as coisas.” Efésios 5:13

Como os equipamentos eram caros, pesados e frágeis, nenhum fotógrafo se aventurava pelas regiões mais pobres da cidade, e durante algum tempo a fotografia permaneceu como um brinquedo das classes abastadas. Além disso, naquela época a fotografia era inútil para registrar algo que estivesse acontecendo à noite ou num lugar escuro. Jacob Riis achou que estava na hora de mudar isto. Ele foi o primeiro fotógrafo a usar o flash, e, assim, pôde registrar a realidade dos bairros pobres de Nova York, sempre envoltos em trevas e sombras.

Durante o início de 1887, no entanto, Jacob Riis ficou surpreso ao ler sobre uma invenção dos alemães Adolf Miethe e Johannes Gaedicke: uma mistura de magnésio com clorato de potássio e sulfeto de antimônio, formando um pó que, disparado por um dispositivo, a “panela de flash”, iluminava suficientemente a cena. Mas o equipamento do flash era perigoso e tinha que ser manuseado com cuidado. São numerosas as histórias de horror sobre o pó de magnésio, que poderia causar de problemas respiratórios a queimaduras graves. Além disso, o flash era ofuscante e produzia uma torrente de fumaça, incomodando a todos no ambiente.

Riis, uma luz no mundo

“Eu fiz de você luz para os gentios, para que você leve a salvação até aos confins da terra.” 
Atos 13:47b

Jacob Riis foi um homem enérgico, que combinava em sua pessoa o caráter de diácono da igreja de Long Island e de repórter policial em Nova York. Como professor da escola dominical, ele incentivava seus alunos a se envolverem em atividades comunitárias que auxiliassem na redução dos problemas enfrentados pelos trabalhadores pobres e imigrantes de Nova York. Foi dessa forma que ele acabou usando a fotografia para documentar as condições de vida nos bairros mais pobres da cidade.

Riis acumulou muitas fotografias, mas não conseguiu vendê-las para revistas ilustradas. Por isso ele começou a divulgar seu trabalho nas igrejas, inclusive na sua própria. Dessa forma, aumentou consideravelmente o número de pessoas que tiveram contato com suas idéias, e também pôde conhecer outras que tinham o poder de mudar aquela situação. Uma dessas pessoas foi o ex-presidente Theodore Roosevelt, que ficou tão profundamente afetado pelo senso de justiça de Jacob depois de ler sobre as suas exposições, que procurou conhecê-lo, nascendo aí uma amizade para o resto da vida. Mais tarde, comentando sobre Riis, Roosevelt disse: “eu sou tentado a chamá-lo de ‘o melhor americano que eu já conheci’, embora ele já fosse um jovem quando ele veio da Dinamarca para cá”.

Embora suas imagens tenham sido publicadas como gravuras, elas foram capazes de causar um forte impacto sobre a opinião pública. Seu primeiro livro,How the Other Half Lives (Como a outra metade vive), foi publicado em 1890, sendo até hoje um documento comovente do sofrimento humano. Como a pobreza nunca acabou, também o trabalho de Riis nunca teve pausa. Ele seguiu fotografando e escrevendo sempre sobre o mesmo assunto, até morrer aos 65 anos vítima de um ataque cardíaco. Deixou mais de uma dúzia de livros publicados e o seu nome na história da fotografia.

Riis e a Luz do mundo

"Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, 
mas terá a luz da vida". João 8:12

Jacob Riis foi um exemplo de ser humano, de profissional e de cristão. Ele mostrou na prática que a fé não é só coisa de igreja, mas que podemos (e devemos) aplicá-la ao nosso estilo de vida, fazendo tudo para a glória de Deus (1 Co 10:31). Também mostrou que a fé sem obras é morta (Tiago 2:17) e que o amor ao próximo é a marca do crente (1 João 4:8).

Sua vida foi como o flash que inaugurou: uma pequena luz frágil e defeituosa, mas que, sendo manuseada pelo Supremo Fotógrafo (Deus), foi capaz de iluminar o coração de muitos homens, refletindo um pouco da Sua grandeza, bondade e amor. Que o exemplo desse servo de Deus nos incentive a viver como verdadeiras luzes nesse mundo.

“Porque outrora vocês eram trevas,
mas agora são luz no Senhor.
Vivam como filhos da luz.” - Efésios 5:8

Por: Débora Silva Costa
Publicado no Fé & Razão

15 de outubro de 2011

Discipulado, o que é isso?

Abaixo você pode ver uma bela apresentação que mostra como fazer discípulos deveria ser. Num mundo onde cada vez mais a igreja tenta ser uma ressurreição do antigo programa do Sílvio Santos: "Topa tudo por Dinheiro", até que ela veio em boa hora!

10 de outubro de 2011

Neofilia: de bueiro em bueiro e rumo ao sumidouro

"Jesus perguntou, então, aos seus discípulos:
 —Vocês entenderam as coisas que eu acabei de dizer?
E eles responderam:
—Sim, entendemos.
E Jesus lhes disse:
—É por isso que todo professor da lei, quando aprende a respeito do reino do céu, se torna semelhante a um pai de família que tira de seu depósito tanto coisas novas como coisas velhas." -- Mateus 13.51-52, Versão Fácil de Ler.

Tenho um grande amigo aqui perto, e nos vemos sempre. Às vezes nos vemos online ou pessoalmente, mas nos vemos tanto que, ao perguntar pelas novas, sempre me dá suas velhas respostas-bordão, como "Nada é tão novo... nada é tão antigo", "As novas já estão todas velhas"... Eu prefiro dizer que estou sem novidades mesmo. Isso só ocorre porque sempre lhe pergunto pelas novidades, mesmo que o tenha visto há três dias. Às vezes eu acho que eu pergunto só para tentar adivinhar qual dos bordões ele vai usar em cada resposta... Amigos de muito tempo sempre têm diálogos recorrentes.

Enfim, estar em dia, quem não quer, não é? Meu navegador de internet, por exemplo, já abre no Google Notícias para, se eu quiser, acompanhar as últimas. Como em todo o mundo, a igreja também tem gente assim - e muita. Por vezes, parece até que só tem mesmo gente assim. Obviamente, alguns sabem tirar proveito dessa atitude no meio eclesiástico, que muitas vezes é igual ao dos atenienses: ócio constante, inclinação ao ego e busca das últimas novidades, sensações e emoções.

Escrevo isto porque fiquei estarrecido ao ler alguns artigos na internet noticiando que um tal ministro evangélico estrangeiro veio ao Brasil, patrocinado e anunciado por uma agremiação evangélica chique, para comunicar aos "brothers & sisters" daqui produtos supostamente sobrenaturais e vanguardistas, como "ativação profética", "liberação de destino", "novas unções": sobrenaturalezas e espiritualices mais.

Impressiona-me ver que, na busca por atrair público - e obviamente agregar um pouquinho de fama, poder, influência e alguns contos no bolso, alguém se dê ao trabalho de, usando Jesus como garoto-propaganda, inventar um monte de coisas que não existem, que nunca fizeram falta e que não têm utilidade alguma - nem teórica e nem prática, levando em conta que o apelo do novo mexe com a vaidade e a cobiça das pessoas, seja porque elas querem levar alguma vantagem sobre os outros, receber alguma informação privilegiada ou por outro motivo qualquer.

O apelo ao novo é algo tão explorado e fácil de fazer que vi algo assim, ontem mesmo: enquanto eu organizava uns livros na minha estante, ouvia representantes de um grupo religioso, num programa de televisão local, anunciando um evento (não reparei se era evangélico ou não. Embora eu creia que não; já que nem se falou do evangelho, e com muito custo se mencionou metade de um versículo. E eu não estava no mesmo cômodo em que a televisão para ver a imagem). Eles pareciam que realmente não tinham nada de importante a dizer ou a testemunhar com aquele evento. Repetiam sem parar as mesmas falas, e perdoem-me reproduzir a repetitividade deles aqui, porque estou apenas participando-lhes o que eles disseram: que "porque os jovens gostam de novidades...", "porque os jovens querem novidades...", "porque os jovens curtem novas sensações...", "porque os jovens querem vida..." Um milhão de vezes mencionaram as palavras "jovens", "novo", "sensações", "novas", "experiências", "novidades"... O engraçado é que era notório que a extrema falta de conteúdo dos religiosos combinava perfeitamente com a absurda falta de ter o que passar do programa televisivo. Sobrava tempo e faltava assunto (Ou eles pagaram por tempo de mais na TV para assunto de menos?). O que ficou da "mensagem", para mim, é que "se você é jovem e gosta de ficar sentindo coisas novas, aquele evento é um 'must' para você! Você vai sentir várias coisas! E o mais importante: são coisas novas! Ah... elas também são de 'Deus'".

Enfim, creio que isso apenas ilustra mais uma vez o que se vê naqueles cartazes vãos de anúncios de programações de igrejas que aparentemente deixaram, como propósito de sua existência, o testemunho do evangelho de Jesus Cristo (digo "aparentemente" porque creio que, em muitas dessas instituições, ainda há gente de Deus, mesmo que não fique evidente; e, porque, amiúde, o que mais avulta é o que há de pior, e o que causa mais impacto). 

Igrejas que deixam o evangelho para viver de novidades, como não têm mais razão de existir, subsistem apenas para atender à vontade das pessoas vazias que sustentam seu funcionamento. Pessoas estas que, como não têm no evangelho e no senhorio de Cristo uma âncora segura, uma Rocha e um Norte para a vida, seguem arrastadas pela correnteza da modernidade cada vez que um bueiro diferente é aberto; almas que têm, como filosofia e propósito, o frescor das emoções, das sensações e das informações que as vão tragando num sumidouro atraente, porém, fatal.

Curioso que o velho apóstolo Paulo, em epístola escrita aos cristãos da região da Galácia (porque eles estavam deixando a mensagem do evangelho da salvação - que é o poder e sabedoria de Deus manifestados na pessoa e na obra de Cristo na cruz - por obras da Lei de Moisés, que não podiam salvar), censurou-os mais ou menos assim: "Gálatas, seus malucos! Quem foi que enfeitiçou vocês?" [Gálatas 3.1]... Agora me sinto como ele parece ter se sentido ao escrever aquilo, com um misto de espanto e urgência sem tamanho, ao olhar para a igreja evangélica. Para a qual, simplesmente ouvir o evangelho, que nunca deveria deixar de ter sido sua essência, hoje realmente soaria como algo inédito: a grande novidade das velhas "boas-novas"!

E se sobram ministros malucos que não pregam o evangelho por amor a Deus - e já que nem mesmo o amor de Cristo os comove a fazer tal - que pelo menos o fizessem, não por amor ao dinheiro ou às pessoas, mas por amor... ao novo! Se eles não quiserem fazê-lo mesmo assim, queiramos nós! Não temos opção. Pois, como repetia o velho Seu Barriga vestido de garçom num episódio de Chapolim, em que levou muitas pancadas: "Estamos aqui pra isso!". E, como dizia um bom e sábio apóstolo, de quem sinto saudade tendo-o conhecido apenas de ouvir falar, o qual agora está descansando no andar de cima, depois de uma vida terrena marcada pela fidelidade exemplar, pelo fervor pelas imutáveis palavras da vida eterna e pela renúncia a tudo pelo Salvador e Senhor que o amou e que deu a  Sua própria vida por ele: "o amor de Cristo nos constrange".

Que o amor de Cristo, de fato, tome conta de nossas vidas e nos faça prosseguir, a todos, para vivermos e testemunharmos o indispensável e eterno evangelho, seja ele novo, seja ele velho!

"Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou." - 2 Coríntios 5.14-15, NVI

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