28 de fevereiro de 2011

Deus odeia o pecado, mas ama ao pecador! É isso mesmo?


Podemos aceitar que existe um sentido genérico do amor de Deus. Ele demonstra e fala de amor ao mundo, à humanidade, à sua criação. Como calvinista, não tenho nenhuma dificuldade em aceitar isso. Temos que entender, porém, que no sentido salvífico (a salvação eterna da perdição e condenação do pecado) o amor de Deus é derramado exclusivamente sobre o seu povo e, individualmente, sobre os que ele eficazmente chama para si. Sobre aqueles que responderão, ao chamado eficaz, abraçando a Cristo como único e suficiente Salvador.

A frase "Deus odeia o pecado, mas ama ao pecador", entretanto, por mais que seja proferida e repetida, é uma forma simplista de expressar uma situação complexa, pois realmente é impossível separar o pecado do pecador, como se o pecado fosse uma entidade com vida independente, que apenas se utiliza do corpo e da mente do praticante.

Tiago (1.12-15) nos ensina que o pecado é gerado dentro das pessoas, partindo da própria concupiscência, externando sua prática em um relacionamento "simbiótico" (de dependência mútua) com o praticante. Sem barreiras e controles, enfim, sem a redenção, leva à morte.

O pecado é algo odioso em suas manifestações. Estas são verificáveis nas pessoas, pecadoras, sem as quais ele é indescritível e amorfo.

Em Romanos 9.11-18 a Bíblia fala do "aborrecimento" (ódio) de Deus contra Esaú, contrastando com o amor derramado sobre Jacó. Mas a Palavra de Deus expressa em outras ocasiões (além desse caso específico, de Esaú e Jacó) o ódio ("aborrecimento") de Deus a pecadores. Isso ocorre, porque ele é tanto JUSTIÇA como AMOR.

Por exemplo, no Salmo 11.5, lemos "O Senhor prova o justo e o ímpio; a sua alma odeia ao que ama a violência". Veja que ele não odeia somente a violência (inexistente, sem o praticante), mas "ao que ama a violência" - uma pessoa, o pecador.

Em Pv. 6.16-18 lemos sobre sete coisas que o senhor abomina (odeia): olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contenda entre irmãos. Quando lemos essa descrição das "coisas" que o Senhor odeia, vemos que elas não são especificamente "coisas", mas são pessoas que realizam certas ações; a descrição é a de pessoas que Deus abomina. Isso fica bem claro nas duas últimas "coisas" - uma pessoa, ou outra, que é: "testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos".

Não resta dúvida, portanto, que pelo menos nessas instâncias específicas Deus odeia pecadores. Consequentemente, isso deve nos fazer cautelosos de dar uma declaração genérica e abrangente de que ele não odeia pecadores, pois esse ensinamento não pode ser atribuído, dessa maneira, à Bíblia e carece de inúmeras qualificações.

Por Solano Portela
Publicado originalmente em O Tempora! O Mores!



Comentário de Avelar Jr.: Eu estive pensando sobre isso dia desses na Escola Dominical e levei alguns textos bíblicos para que minha classe considerasse.: "Deus ama realmente o pecador?"

O que podemos pensar diante de versículos como os que transcrevi abaixo? "Deus amou o mundo de tal maneira" (João 3.16), mas...

"Pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência;" - Colossenses 3.6

"Ninguém vos engane com palavras vãs; porque por estas coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência." - Efésios 5.6

"Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece." - João 3.36

"Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também." - Efésios 2.3

"E que direis, se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição" - Romanos 9.22

"Antes, ele dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes." - Tiago 4.6 (veja também 1 Pedro 5.5)

"Porque o SENHOR, o Deus de Israel diz que odeia o repúdio, e aquele que encobre a violência com a sua roupa, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto guardai-vos em vosso espírito, e não sejais desleais." - Malaquias 2.16

"O que justifica o ímpio, e o que condena o justo, tanto um como o outro são abomináveis ao SENHOR." - Provérbios 17.15

"Porque o perverso é abominável ao SENHOR, mas com os sinceros ele tem intimidade." - Provérbios 3.32

7 de fevereiro de 2011

O dia em que senti vergonha da Bíblia

"...Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?" - Atos 2.11 

"Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" - 1 Pedro 2.9

Eu gosto muito de ler a Bíblia. Tenho uma que considero de cabeceira, apesar das várias versões que tenho. Quando decoro versículos, quando estudo mais seriamente uma passagem e em diversas ocasiões sempre recorro a ela.

Desde que me converti, me alegrei com sua companhia. Temos sido amigos íntimos: íamos ao culto juntos, viajávamos juntos e, mesmo com os traços de idade e o desgaste do tempo, ela ainda está aqui comigo com seus rabiscos, cores, ícones e marcações que desenvolvi.

Lembro-me de que uma vez, eu e minha mãe fomos à casa de uma senhora idosa, amiga da família, cujos alegria e sorriso eram constantes mesmo nas maiores adversidades. Muito religiosa e receptiva, ela era sempre disposta a ouvir falar de Deus; católica devota, ainda benzia quem a procurasse -- uma pessoa simples, carinhosa e que, na sua luta pela sobrevivência, talvez nunca tenha frequentado uma escola na vida.

Lembro-me de que pedi-lhe para ler uma passagem da Bíblia: uma daquelas em que Jesus curou alguém, porque ela própria estava enferma. Eu comecei a lê-la muito animado e, à medida que lia, vi quantas palavras pareceriam desconhecidas ou confusas para uma pessoa de pouca ou nenhuma educação como ela.

Obviamente eu iria comentar o texto em seguida, mas fiquei envergonhado de me sentir obrigado a simplificar palavras que a tradução poderia ter evitado a fim de comunicar uma verdade tão bela e essencial. Saí com um sentimento agridoce, pois vi que a versão que quase falava a minha língua -- porque o dicionário também frequentava nossa roda de amizade -- não falava a língua de muitas outras pessoas, principalmente das mais necessitadas. Eu estava num gueto e não sabia.

Desde então, apesar de conviver com minha "versão de cabeceira" em casa e no púlpito, tenho usado outras versões para evangelismo e também nas atividades da igreja, mesmo vendo algumas pessoas que torcem o nariz para novas traduções, e até mesmo uma visitante -- que não sei de onde raios saiu -- para mandar meu melhor amigo jogar uma paráfrase dele no lixo em plena Escola Bíblica Dominical.

Se nossas Bíblias não falarem a língua no povo (como Deus costumava falar), vamos esperar pacientemente que os de fora se acomodem ao nosso grupo de amantes de preciosismos linguísticos sagrados anacrônicos e carente de comunicação fluente, para, só então, descobrirem a (nossa "hermética") palavra de Deus.

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