9 de dezembro de 2011

Triste Futuro Presente

[ESCLARECIMENTO: O texto abaixo é um desabafo antigo, repescado dos tempos em que eu debatia nas comunidades do Orkut. Naquela vitusta época, eu me encontrava triste porque, sendo cristão, eu deveria ficar calado diante de irmãos extremamente amorosos e gentis, em nada fãs de bandas e de pastores de TV góspeis; irmãos justíssimos e esclarecidos, que estavam acima e além de qualquer comprometimento doutrinário ou idelógico, que apoiavam líderes que obravam coisas, digamos... "exóticas" dizendo estar "pregando o evangelho", diferente do que faziam Jesus, os apóstolos, os missionários e evangelistas de todos os tempos. 

Eu deveria mesmo ficar calado. Exceto se eu quisesse ser censurado pelos digníssimos irmãos que não julgam ninguém (ninguém que seja famoso e que esteja num palco ou num púlpito, enriquecendo em detrimento dos seus apoiadores e pregando coisas que eram agradáveis e vistosas a estes). Porque ver o evangelho sendo vituperado em público por pessoas que fazem parecer a neófitos e ignorantes que Deus quer que saiamos imitando animais quadrúpedes e irracionais, fazendo coisas sem proveito de edificação para o corpo de Cristo, derramando alimentos nas calçadas e sujando ruas de mel e leite seria justamente o que Jesus queria que fizéssemos, não é?

Bom, então, como essas coisas não acontecem mais na igreja de Cristo e, por isso, não nos fazem mais passar vergonha diante do mundo incrédulo, deixo-vos com o desabafo por razões históricas, já que os tempos agora são outros e que essas letras perderam a razão de ser:] 

O mundo gospel merece - com toda certeza - o nosso aplauso de pé, nossa admiração sincera e sublime reverência pela qualidade "animal" com que apresenta o nosso Salvador às pessoas que ainda não o conhecem.

Antes Jesus era nosso pastor e amigo; hoje ele é o nosso escravo, que faz tudo que queremos (Não, não pensem que é exagero meu! Eu já vi em momentos de oração pessoas tratando Deus pior do que se trata um animal, esquecendo-se de quem é o dono de quem).

Antes éramos conhecidos por sermos diferentes do mundo; hoje, nosso impacto é de ser as nulidades a quem os "pastores" enganam e roubam, burras a ponto de defender quem nos extorque e explora, gente sem identidade e relevância, apenas uma cifra nas estatísticas do IBGE que nada representa para a mudança desse país.

Antes artista cristão vivia, mormente, de ofertas voluntárias, servia ao corpo de Cristo, cantando a palavra de Deus, e edificando com seu exemplo simples; hoje, são ricos empresários que criam uma marca, enriquecem com toda uma sofisticada linha de produtos, e constróem um nome em cima de programas de TV e contratos com gravadoras, as quais lhes impõem como devem ser, vestir, fazer e o que falar, tudo sob os ditames do mercado consumidor - são meros apetrechos a serviço de "emprejas" que querem alavancar sua arrecadação de dízimos, inflar seu quadro de membros e fortalecer o impacto de sua marca institucional -- isso quando não são mercenários.

Antes a Bíblia alertava que viria a "apostasia"; hoje isso foi deixado de lado, e temos "profetas" por aí alardeando novidades e que estamos vivendo uma "renovação apostólica", um "avivamento profético", onde o que vemos, na verdade, são pomposos líderes dando à igreja testemunho uns das supostas "autoridades" dos outros, outorgando-se altos títulos, mas sem ter a mínima noção do que seja um rebanho, um ministério e seguir a Cristo, sem conhecer de fato quais são as marcas de um apostolado, de um discipulado, e da grandeza de ser servo de todos, como Cristo nos mostrou em seu ministério terreno.

Antes as ovelhas conheciam o pastor, e este as conhecia todas, existia um relacionamento contínuo  e dedicado, comunhão de vida; hoje, as ovelhas nem sabem quem realmente são seus pastores, que nem sabem quem são suas ovelhas... ou fregueses, contribintes, usuários, fãs, público... Hoje existe a figura do "pastor-conferencista", que peregrina de igreja em igreja, levando pregações e palestras pontuais sobre um tema específico (e, dependendo da figura, sobre coisa alguma), sem  se dedicar ao cuidado de um rebanho específico. Se pastor é quem cuida de um rebanho que lhe foi confiado pelo Senhor, alimentando-o, protegendo-o, investindo sua vida e seu tempo no crescimento e bem-estar dele (sendo este um excelente ministério, conforme as Escrituras), pelo menos no meu entender, pastor-conferencista é apenas "conferencista", não "pastor".

Antes a Bíblia dizia que nos últimos dias os jovens teriam visões e alertava para os falsos mestres que surgiriam de dentro da igreja para devorar o rebanho sem dó; hoje a igreja só lembra da primeira dessas profecias, convenientemente. E o pior é que parece viver muito bem ignorando isso, ignorando tudo. E acolhendo somente o que sustenta a base de sua zona de conforto. Como é ruim ter amnésia e ser cego ao mesmo tempo! 

[Atualizado e modificado na mesma data.]

27 de outubro de 2011

Sorriso amarelo


"Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita ousadia no falar." - 2 Coríntios 3:12

Às vezes falamos do céu e de Jesus para nossos amigos, familiares ou estranhos como se fossem algo excelente. De fato são, claro. Mas se somos questionados sobre se toparíamos partir desta vida e estar lá agora mesmo, titubeamos e até dizemos - depois de um sorriso amarelo por não termos sido categóricos - que sim. Alguns de nós ainda somos capazes de argumentar sobre por que ainda temos de permanecer por aqui mais um pouquinho, para justificar nossa hesitação.

Com tamanha convicção para falar com os outros sobre nossa esperança, não admira que muitos por aí nem queiram mesmo pensar no céu como algo que se deva desejar urgentemente, nem com um relacionamento eterno com Deus como algo que se deva buscar agora. Será que não imprimimos nos outros a sensação de que isso é assunto para leito de morte ou pessoas muito idosas?

No fundo, muitas vezes julgamos nossa vida e as coisas que temos neste mundo como mais importantes que nossa pátria celestial e que a vontade de nosso Senhor, mesmo que não queiramos assumir. Somos craques em mentir para nós mesmos, para que não nos convençamos que não somos tão espirituais quanto deveríamos ser. Então não devemos nos espantar de que as pessoas ao nosso redor pensem da mesma forma que vivemos diante delas: que falar do céu é como falar do nosso caixão... provavelmente quem vai escolhê-lo são os outros, porque já teremos "batido as botas"; ou... não devemos dar tanta atenção a isto, já que vai acontecer daqui há um "zilhão" de anos, e nós ainda não estamos velhos.

Os melhores vendedores que conheço apesentam muito bem seus produtos e a si mesmos, acreditam na sua empresa e nos produtos que recomendam, os quais, obviamente, utilizam, e zelam pela própria credibilidade e pelo seu encargo. Ou fingem descaradamente. Como esta última não é uma opção para cristãos, creio que fazemos todo o bem em anunciar as boas novas com entusiasmo, convicção, sinceridade, preparo e zelo, da mesma forma como devemos vivenciá-lo em nosso dia a dia.

Como conseguiremos conquistar as pessoas para Cristo e levá-las a reconhecer que, de fato, temos algo tão bom para oferecer-lhes, se não parecemos ter nossa vida alicerçada na esperança do evangelho como se ele fosse o nosso próprio alimento ou o coração que impulsiona os nossos corpos? 


"Vocês ressuscitaram com Cristo, procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Mantenham o pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas. Pois vocês morreram, e agora a sua vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês também serão manifestados com ele em glória." - Colossenses 3:1-4

20 de outubro de 2011

Jacob Riis, uma luz na fotografia


"Vocês são a luz do mundo... Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, 
para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, 
que está nos céus". Mateus 5:14a, 16

Neste semestre da faculdade, estudando vários fotojornalistas famosos, deparei-me com um, em especial, que me chamou a atenção: chama-se Jacob Riis (1849 – 1914), um fotógrafo cristão que deixou sua fé influenciar positivamente seu trabalho. Ele ficou marcado na história como um dos fundadores do fotojornalismo e de toda uma escola de profissionais empenhados em usar a fotografia para intervir sobre a realidade social. Além disso, é conhecido por ser o pioneiro no uso do flash na fotografia.

Riis e o Jornalismo

“...pois o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade.” Efésios 5:9b

Nascido na Dinamarca, numa família grande e pobre, Jacob Riis desde cedo foi influenciado por seu pai a ler e aprender inglês, esperando que tivesse uma carreira literária. Mas ele queria, na verdade, ser um carpinteiro e emigrou para a América em 1870, aos 21 anos, com esse objetivo. Contudo, para a maioria dos imigrantes, as coisas não eram tão fáceis, e Riis sentiu na própria pele a pobreza e o preconceito. Somente em 1873 conseguiu um emprego razoável, numa agência de notícias, a New York News Association. Depois disso ainda trabalhou brevemente como editor em dois pequenos jornais da cidade, e, quatro anos depois, tornou-se repórter policial do New York Tribune.

Durante esse tempo como repórter policial, Riis trabalhou nas favelas mais violentas e pobres da cidade e pôde escrever relatos de primeira mão das indignidades e injustiças na vida dos imigrantes. Através de suas próprias experiências, ele decidiu fazer a diferença. Com seu estilo de escrita melodramático, ele tornou-se um dos primeiros jornalistas reformistas, que não apenas registravam os acontecimentos, mas usavam seu trabalho como ferramenta de mudança social.

Riis e a Fotografia

“Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, 
porque são feitas em Deus.” João 3:21

“Uma imagem vale mais do que mil palavras.” Este ditado popular começou a fazer sentido na vida de Jacob Riis. Há algum tempo ele vinha procurando um meio de mostrar a miséria mais vividamente, principalmente depois de ter sido acusado de exagerar na sua descrição. Foi quando recorreu à fotografia, uma arma de persuasão que superava o poder das palavras.

Autodidata, Riis documentou, durante cerca de dez anos, favelas, guetos de imigrantes miseráveis em condições de semi-escravidão e sem o mínimo de condições sanitárias. Suas fotos, chocantes para a época, ajudaram a mobilizar a opinião pública em favor de leis relativas à educação, trabalho e moradia. Em 1884, por exemplo, conseguiu que fosse formada uma comissão para tratar dos problemas de habitação, a Tenement House Commission.

Riis e o flash fotográfico

“Mas, tudo o que é exposto pela luz torna-se visível, 
pois a luz torna visíveis todas as coisas.” Efésios 5:13

Como os equipamentos eram caros, pesados e frágeis, nenhum fotógrafo se aventurava pelas regiões mais pobres da cidade, e durante algum tempo a fotografia permaneceu como um brinquedo das classes abastadas. Além disso, naquela época a fotografia era inútil para registrar algo que estivesse acontecendo à noite ou num lugar escuro. Jacob Riis achou que estava na hora de mudar isto. Ele foi o primeiro fotógrafo a usar o flash, e, assim, pôde registrar a realidade dos bairros pobres de Nova York, sempre envoltos em trevas e sombras.

Durante o início de 1887, no entanto, Jacob Riis ficou surpreso ao ler sobre uma invenção dos alemães Adolf Miethe e Johannes Gaedicke: uma mistura de magnésio com clorato de potássio e sulfeto de antimônio, formando um pó que, disparado por um dispositivo, a “panela de flash”, iluminava suficientemente a cena. Mas o equipamento do flash era perigoso e tinha que ser manuseado com cuidado. São numerosas as histórias de horror sobre o pó de magnésio, que poderia causar de problemas respiratórios a queimaduras graves. Além disso, o flash era ofuscante e produzia uma torrente de fumaça, incomodando a todos no ambiente.

Riis, uma luz no mundo

“Eu fiz de você luz para os gentios, para que você leve a salvação até aos confins da terra.” 
Atos 13:47b

Jacob Riis foi um homem enérgico, que combinava em sua pessoa o caráter de diácono da igreja de Long Island e de repórter policial em Nova York. Como professor da escola dominical, ele incentivava seus alunos a se envolverem em atividades comunitárias que auxiliassem na redução dos problemas enfrentados pelos trabalhadores pobres e imigrantes de Nova York. Foi dessa forma que ele acabou usando a fotografia para documentar as condições de vida nos bairros mais pobres da cidade.

Riis acumulou muitas fotografias, mas não conseguiu vendê-las para revistas ilustradas. Por isso ele começou a divulgar seu trabalho nas igrejas, inclusive na sua própria. Dessa forma, aumentou consideravelmente o número de pessoas que tiveram contato com suas idéias, e também pôde conhecer outras que tinham o poder de mudar aquela situação. Uma dessas pessoas foi o ex-presidente Theodore Roosevelt, que ficou tão profundamente afetado pelo senso de justiça de Jacob depois de ler sobre as suas exposições, que procurou conhecê-lo, nascendo aí uma amizade para o resto da vida. Mais tarde, comentando sobre Riis, Roosevelt disse: “eu sou tentado a chamá-lo de ‘o melhor americano que eu já conheci’, embora ele já fosse um jovem quando ele veio da Dinamarca para cá”.

Embora suas imagens tenham sido publicadas como gravuras, elas foram capazes de causar um forte impacto sobre a opinião pública. Seu primeiro livro,How the Other Half Lives (Como a outra metade vive), foi publicado em 1890, sendo até hoje um documento comovente do sofrimento humano. Como a pobreza nunca acabou, também o trabalho de Riis nunca teve pausa. Ele seguiu fotografando e escrevendo sempre sobre o mesmo assunto, até morrer aos 65 anos vítima de um ataque cardíaco. Deixou mais de uma dúzia de livros publicados e o seu nome na história da fotografia.

Riis e a Luz do mundo

"Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, 
mas terá a luz da vida". João 8:12

Jacob Riis foi um exemplo de ser humano, de profissional e de cristão. Ele mostrou na prática que a fé não é só coisa de igreja, mas que podemos (e devemos) aplicá-la ao nosso estilo de vida, fazendo tudo para a glória de Deus (1 Co 10:31). Também mostrou que a fé sem obras é morta (Tiago 2:17) e que o amor ao próximo é a marca do crente (1 João 4:8).

Sua vida foi como o flash que inaugurou: uma pequena luz frágil e defeituosa, mas que, sendo manuseada pelo Supremo Fotógrafo (Deus), foi capaz de iluminar o coração de muitos homens, refletindo um pouco da Sua grandeza, bondade e amor. Que o exemplo desse servo de Deus nos incentive a viver como verdadeiras luzes nesse mundo.

“Porque outrora vocês eram trevas,
mas agora são luz no Senhor.
Vivam como filhos da luz.” - Efésios 5:8

Por: Débora Silva Costa
Publicado no Fé & Razão

15 de outubro de 2011

Discipulado, o que é isso?

Abaixo você pode ver uma bela apresentação que mostra como fazer discípulos deveria ser. Num mundo onde cada vez mais a igreja tenta ser uma ressurreição do antigo programa do Sílvio Santos: "Topa tudo por Dinheiro", até que ela veio em boa hora!

10 de outubro de 2011

Neofilia: de bueiro em bueiro e rumo ao sumidouro

"Jesus perguntou, então, aos seus discípulos:
 —Vocês entenderam as coisas que eu acabei de dizer?
E eles responderam:
—Sim, entendemos.
E Jesus lhes disse:
—É por isso que todo professor da lei, quando aprende a respeito do reino do céu, se torna semelhante a um pai de família que tira de seu depósito tanto coisas novas como coisas velhas." -- Mateus 13.51-52, Versão Fácil de Ler.

Tenho um grande amigo aqui perto, e nos vemos sempre. Às vezes nos vemos online ou pessoalmente, mas nos vemos tanto que, ao perguntar pelas novas, sempre me dá suas velhas respostas-bordão, como "Nada é tão novo... nada é tão antigo", "As novas já estão todas velhas"... Eu prefiro dizer que estou sem novidades mesmo. Isso só ocorre porque sempre lhe pergunto pelas novidades, mesmo que o tenha visto há três dias. Às vezes eu acho que eu pergunto só para tentar adivinhar qual dos bordões ele vai usar em cada resposta... Amigos de muito tempo sempre têm diálogos recorrentes.

Enfim, estar em dia, quem não quer, não é? Meu navegador de internet, por exemplo, já abre no Google Notícias para, se eu quiser, acompanhar as últimas. Como em todo o mundo, a igreja também tem gente assim - e muita. Por vezes, parece até que só tem mesmo gente assim. Obviamente, alguns sabem tirar proveito dessa atitude no meio eclesiástico, que muitas vezes é igual ao dos atenienses: ócio constante, inclinação ao ego e busca das últimas novidades, sensações e emoções.

Escrevo isto porque fiquei estarrecido ao ler alguns artigos na internet noticiando que um tal ministro evangélico estrangeiro veio ao Brasil, patrocinado e anunciado por uma agremiação evangélica chique, para comunicar aos "brothers & sisters" daqui produtos supostamente sobrenaturais e vanguardistas, como "ativação profética", "liberação de destino", "novas unções": sobrenaturalezas e espiritualices mais.

Impressiona-me ver que, na busca por atrair público - e obviamente agregar um pouquinho de fama, poder, influência e alguns contos no bolso, alguém se dê ao trabalho de, usando Jesus como garoto-propaganda, inventar um monte de coisas que não existem, que nunca fizeram falta e que não têm utilidade alguma - nem teórica e nem prática, levando em conta que o apelo do novo mexe com a vaidade e a cobiça das pessoas, seja porque elas querem levar alguma vantagem sobre os outros, receber alguma informação privilegiada ou por outro motivo qualquer.

O apelo ao novo é algo tão explorado e fácil de fazer que vi algo assim, ontem mesmo: enquanto eu organizava uns livros na minha estante, ouvia representantes de um grupo religioso, num programa de televisão local, anunciando um evento (não reparei se era evangélico ou não. Embora eu creia que não; já que nem se falou do evangelho, e com muito custo se mencionou metade de um versículo. E eu não estava no mesmo cômodo em que a televisão para ver a imagem). Eles pareciam que realmente não tinham nada de importante a dizer ou a testemunhar com aquele evento. Repetiam sem parar as mesmas falas, e perdoem-me reproduzir a repetitividade deles aqui, porque estou apenas participando-lhes o que eles disseram: que "porque os jovens gostam de novidades...", "porque os jovens querem novidades...", "porque os jovens curtem novas sensações...", "porque os jovens querem vida..." Um milhão de vezes mencionaram as palavras "jovens", "novo", "sensações", "novas", "experiências", "novidades"... O engraçado é que era notório que a extrema falta de conteúdo dos religiosos combinava perfeitamente com a absurda falta de ter o que passar do programa televisivo. Sobrava tempo e faltava assunto (Ou eles pagaram por tempo de mais na TV para assunto de menos?). O que ficou da "mensagem", para mim, é que "se você é jovem e gosta de ficar sentindo coisas novas, aquele evento é um 'must' para você! Você vai sentir várias coisas! E o mais importante: são coisas novas! Ah... elas também são de 'Deus'".

Enfim, creio que isso apenas ilustra mais uma vez o que se vê naqueles cartazes vãos de anúncios de programações de igrejas que aparentemente deixaram, como propósito de sua existência, o testemunho do evangelho de Jesus Cristo (digo "aparentemente" porque creio que, em muitas dessas instituições, ainda há gente de Deus, mesmo que não fique evidente; e, porque, amiúde, o que mais avulta é o que há de pior, e o que causa mais impacto). 

Igrejas que deixam o evangelho para viver de novidades, como não têm mais razão de existir, subsistem apenas para atender à vontade das pessoas vazias que sustentam seu funcionamento. Pessoas estas que, como não têm no evangelho e no senhorio de Cristo uma âncora segura, uma Rocha e um Norte para a vida, seguem arrastadas pela correnteza da modernidade cada vez que um bueiro diferente é aberto; almas que têm, como filosofia e propósito, o frescor das emoções, das sensações e das informações que as vão tragando num sumidouro atraente, porém, fatal.

Curioso que o velho apóstolo Paulo, em epístola escrita aos cristãos da região da Galácia (porque eles estavam deixando a mensagem do evangelho da salvação - que é o poder e sabedoria de Deus manifestados na pessoa e na obra de Cristo na cruz - por obras da Lei de Moisés, que não podiam salvar), censurou-os mais ou menos assim: "Gálatas, seus malucos! Quem foi que enfeitiçou vocês?" [Gálatas 3.1]... Agora me sinto como ele parece ter se sentido ao escrever aquilo, com um misto de espanto e urgência sem tamanho, ao olhar para a igreja evangélica. Para a qual, simplesmente ouvir o evangelho, que nunca deveria deixar de ter sido sua essência, hoje realmente soaria como algo inédito: a grande novidade das velhas "boas-novas"!

E se sobram ministros malucos que não pregam o evangelho por amor a Deus - e já que nem mesmo o amor de Cristo os comove a fazer tal - que pelo menos o fizessem, não por amor ao dinheiro ou às pessoas, mas por amor... ao novo! Se eles não quiserem fazê-lo mesmo assim, queiramos nós! Não temos opção. Pois, como repetia o velho Seu Barriga vestido de garçom num episódio de Chapolim, em que levou muitas pancadas: "Estamos aqui pra isso!". E, como dizia um bom e sábio apóstolo, de quem sinto saudade tendo-o conhecido apenas de ouvir falar, o qual agora está descansando no andar de cima, depois de uma vida terrena marcada pela fidelidade exemplar, pelo fervor pelas imutáveis palavras da vida eterna e pela renúncia a tudo pelo Salvador e Senhor que o amou e que deu a  Sua própria vida por ele: "o amor de Cristo nos constrange".

Que o amor de Cristo, de fato, tome conta de nossas vidas e nos faça prosseguir, a todos, para vivermos e testemunharmos o indispensável e eterno evangelho, seja ele novo, seja ele velho!

"Pois o amor de Cristo nos constrange, porque estamos convencidos de que um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou." - 2 Coríntios 5.14-15, NVI

13 de setembro de 2011

Como Evangelizar Evangélicos

Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!  - Mateus 7.22-23

O meio evangélico é um dos campos missionários mais vastos do nosso país. Alguém duvida? Então fique atento ao modo de pensar e viver dos milhões de “crentes” que andam por aí e ficará surpreso. A maior parte dessa gente não demonstra nenhuma transformação de caráter, nenhuma alteração em seus valores, nenhum compromisso com a santificação e nenhum grau de discernimento espiritual. Parece que a estratégia principal do diabo para destruir a obra de Deus nas últimas décadas deixou de ser debilitar igrejas verdadeiras com os atrativos da apostasia. Agora, ele cria igrejas falsas compostas por cadáveres espirituais apodrecidos com o objetivo de emporcalhar o santo nome de cristão diante do mundo.

Esse método tem dado certo. Com efeito, não é difícil encontrar “crentes” de todos os tipos. Há evangélicos que formam blocos de carnaval e mulheres “cristãs” que falam e se comportam como prostitutas desavergonhadas. Há ainda “pastores” gays casados entre si e missionários e evangelistas hábeis na “arte” do estelionato, além de uma massa enorme de gente de péssima qualidade moral que, às vezes, sai em passeata pela rua gritando o nome de Jesus com a mesma boca com que fala palavrões.

Isso mostra que, de fato, o meio evangélico é um vasto campo missionário. Crentes de verdade, pessoas que conheceram o real poder do evangelho de Cristo, devem testemunhar a esse povo acerca da graça salvadora de Deus, evitando acreditar na piada de que eles são irmãos na fé que precisam apenas de algumas correções. Não. O problema básico da maioria dos neo-evangélicos não é falta de doutrina, mas sim falta de novo nascimento, sendo dever do cristão genuíno apresentar-lhes o evangelho da cruz.

Como isso pode ser feito de forma inteligente, sem deixar que a discussão se perca em meio a opiniões religiosas sem importância? Bom, não acredito em métodos infalíveis do tipo “Doze passos para ganhar um evangélico para Cristo”. Como pastor reformado, penso que só o convencimento do Espírito Santo pode conduzir alguém aos pés da cruz. Creio, contudo, que no trato com crentes falsos, o mensageiro do Senhor pode evitar perder tempo com tolices se agir da forma descrita a seguir.

Primeiro, pergunte se o “irmão” é crente. Não se assuste. A reação dele vai ser mais ou menos assim: “É claro que sou! Eu já não lhe falei que faço parte da Comunidade Evangélica Fogo da Sarça – Sede Mundial?” É nesse ponto que você vai fazer a pergunta fatal. Diga-lhe mais ou menos o seguinte: “Ah, é verdade! Você havia dito... E como foi sua conversão?” Pronto. É aqui que tudo desaba. O neo-evangélico não sabe o que é conversão. Ele vai ficar confuso, vai perguntar o que você quis dizer com essa pergunta, vai contar como foi batizado, como Jesus curou a dor que ele tinha no braço, como o pastor profetizou que ele ia achar emprego, enfim, vai dizer uma tonelada de sandices.

Então você deverá responder: “Amigo, eu tenho certeza de que todos esses episódios foram importantes para você, mas eu perguntei outra coisa. Eu perguntei quando foi que você, após ouvir ou ler a Palavra de Deus, descobriu apavorado que era um pecador perdido, separado da glória de Deus e caminhando para a perdição eterna; quando foi que, ouvindo o Evangelho, você aprendeu que Cristo veio a este mundo como substituto perfeito, a fim de sofrer a punição pelo nosso pecado; quando você entendeu o sentido de sua morte e ressurreição e quando, enfim, com essas informações em mente, você se lançou humilhado aos pés da cruz, dizendo: “Senhor, concede-me os benefícios da tua obra redentora. Lava-me, purifica-me, perdoa-me, salva-me. Eu te recebo, pela fé, como Deus e Salvador.’ Quando foi que isso aconteceu em sua vida?”

Não estranhe. O “irmão” vai olhar para você como se estivesse diante de um ET falando mandarim. Tenha, então, compaixão dele e, pacientemente, passe a explicar-lhe todas as coisas que disse.

Bom, espero que essas “dicas” ajudem. Ainda mais considerando que temos evangélicos incrédulos por toda parte, “revelando” que há muito trabalho a fazer. Realmente temos de aceitar esse fato: o nosso quintal também está branco para a ceifa.

Soli Deo gloria!

Por: Pr. Marcos Granconato

29 de junho de 2011

He-Man: revoltado com a Teologia da Prosperidade

Quando eu era criança, achava muito legal assistir ao He-Man e à She-Ra (Na verdade eu assistia tudo que havia de programas infantis e desenhos animados). Mais legal ainda era que, no final de cada desenho, He-man deixava um conselho prático ou um ensinamento interessante (Bom, no caso de She-Ra, eu me lembro que eu tinha de encontrar Geninho...). Bons anos 80 que não voltam mais, não é?

O que me despertou, de fato, para a importância dos conselhos de He-Man foi que, num certo episódio, Esqueleto, o eterno arqui-inimigo do nosso super-herói, ficou pendurado na borda de um precipício, e a queda resultaria em sua morte. E eu, como toda criança normal, fiquei vibrante e pensei logo: "Finalmente He-Man vai pisar a mão desse cara e acabar com o mal!".

Qual não foi minha surpresa ao ver que He-Man tomou a mão de Esqueleto e o salvou! Foi um choque. Como alguém tão bom poderia salvar alguém tão mau, que só pensava em prejudicar as pessoas? -- pensava eu. Não era óbvio para mim: ele era realmente bom, e fazia algo que Cristo ensinou e praticou. No final, lembro que aquela boa atitude e bom exemplo me impactaram até hoje. Eu não me esqueço de forma alguma que Esqueleto ficou sem jeito e saiu com o rabinho entre as pernas, agradecendo ao seu rival -- e agora também herói -- por tê-lo salvado.

Pesquisando dia desses na internet, para ver se encontrava algum desses conselhos "He-Mânicos" no You Tube, encontrei vários deles. Creio que algo assim seria uma pérola para crianças e pré-adolescentes se ainda passasse na TV (e por que não dizer para os tiozões e tiazonas também?), que hoje em dia encontram desenhos superficiais, violentos, fúteis e que, raras vezes, transmitem uma boa mensagem, e de forma clara e direta.

Um desses vídeos de pérolas "He-Mânicas", tem uma temática que me deixou bastante impressionado por se encaixar perfeitamente na nossa realidadezinha "gospel": a busca de poder e dinheiro fácil, que lembra muito a nossa velha conhecida, a famigerada, a descartável, a tóxica e rebatida... "Teologia da Prosperidade".


Pois é... depois disso He-Man passou a ser, para mim, ainda mais "mano".

4 de junho de 2011

Dos sonsos, brincalhões, mais-que-perfeitos, esquecidos e do tubinho de corretivo


"Não me arrependo de nada." -- respondeu certa celebridade, em entrevista a um programa de TV sensacionalista, ao ser perguntada se acaso se arrependia de algo em sua vida. Talvez eu não tivesse me importado tanto se a entrevistada não apregoasse ser "evangélica" e não tivesse uma vida artística indecente e cercada por polêmicas desde antes de sua "conversão". A inquietação que surgiu na hora me trouxe várias perguntas: 
  • Que mensagem alguém assim estaria transmitindo? 
  • Que imagem do evangelho um indivíduo não evangélico teria ao ver esta entrevista? 
  • O que levaria uma pessoa que se diz "evangélica" a afirmar que não se arrepende de nada em sua vida? 
  • Será que tal pessoa realmente entendeu as boas-novas (que devemos nos arrepender de nossos pecados e crer em Jesus Cristo para sermos perdoados por Deus - Atos 3.19; 4.12) e teve um encontro real com Jesus? 
  • Saberia ela o que é ser amada, perdoada e recebida de braços abertos por um Deus justo, santo e perfeito? 
  • Conheceria o significado da palavra graça (favor de Deus)?

Na certa, ninguém afirmaria "eu sou perfeito" ou "eu nunca erro"... seria absurdo. Mas se dizemos que não pecamos e que não temos de que nos arrepender, fazemos de nós mesmos mentirosos e incoerentes (1 João 1.6-8), pois é como se disséssemos que estamos em pé de igualdade com Deus em sua perfeição e santidade e que nada devemos a Ele.

Ao falarmos de conduta cristã, não devemos tomar como padrão a opinião pública ou o politicamente correto, mas a palavra de Deus. E esta nos diz que todos falhamos e fomos reprovados aos olhos de Deus, e que somos desesperadamente carentes da redenção e do perdão divinos, que se encontram somente por meio de Jesus Cristo (Romanos 3.10,12,23-24).

Creio que seria fácil condenarmos imediatamente alguém que segue um estilo de vida indecente, pecaminoso e cheio de vicios, pois facilmente nos veríamos como pessoas não tão ruins apenas por não comungarmos especificamente dos mesmos erros. Mas Jesus não pensa da mesma forma: o resumo de sua mensagem a todos é: "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho" (Marcos 1.15; veja também Lucas 13.1-3). Porque todos pecamos, e apenas um pecado é suficiente para condenar-nos diante de Deus (Romanos 3.10, Tiago 2.10).

Assim, para chegarmos a Ele e obtermos seu perdão, devemos deixar nossos pecados. E, se deixamos nossos pecados um dia, crendo que eles foram pagos por Jesus, e que, agora, libertos deste peso, somos livres para vivermos para Deus, por que diríamos depois que não nos arrependemos de nada? Bizarro!

Nosso orgulho muitas vezes faz com que, mesmo tendo sido regenerados, em alguns momentos de nossa existência, façamos pouco caso de nossos pecados, como se eles não tivessem importância. Mas foi precisamente por causa deles que Jesus derramou sua vida na cruz, tornando-se o sacrifício perfeito que pagou a pena que merecíamos por cometê-los (Romanos 5.6-8).

O pecado habitual nos torna insensíveis e leva a uma certa "amnésia" em relação ao primeiro amor entre nós e Deus. Precisamos estar atentos para isso, a fim de evitarmos que Ele tenha que chamar nossa atenção de forma mais enérgica. Porque Deus castiga aos filhos que ama, e tudo fará a fim de que possamos andar em comunhão e santificação junto de Si (Apocalipse 2.5).

Jesus ordena urgentemente que nos arrependamos. E não podemos nos valer de pretextos e nem nos deixar iludir por quem transmite um evangelho diferente, seja com suas palavras ou com seu exemplo (Gálatas 1.8-9). Como podemos menosprezar o arrependimento, nós que passamos por ele quando conhecemos o amor do Mestre outrora? Como podemos negar nossa fé assim? Não importa o que digam por aí, a Bíblia é muito clara em afirmar que sem santidade ninguém verá a Deus, e santidade não pode haver onde o pecado se torna constante e subestimado (Hebreus 12:14).

Uma vez brinquei com uma colega de trabalho, a qual me perguntou se eu tinha um tubinho de corretivo para emprestá-la, porque ela tinha errado escrevendo de caneta. Eu lhe respondi: "Não, não tenho. Corretivo é para quem erra." -- Brinquei, claro. E nós rimos muito. Mas tem gente por aí que fala isso sério!

24 de maio de 2011

A Bíblia em Mangá - O Novo Testamento. Resenha.


Traduzida do inglês, "The Manga Bible", foi lançada no Brasil em dois volumes. Dias atrás, publiquei uma resenha sobre "A Bíblia em Mangá* - O Velho Testamento". Agora, como prometido, comento o volume do Novo Testamento.

Esta segunda parte de "A Bíblia em Mangá" mostra, resumidamente e em quadrinhos, a história de Jesus (desde o seu nascimento até a sua morte e ressurreição), o início da igreja cristã, a vida dos apóstolos e o Apocalipse.

Destaco as parábolas de Jesus, que vão aparecendo ao longo da narrativa de sua vida. Você verá uma releitura moderna de algumas delas, como o bom samaritano, o filho pródigo e os maus lavradores - com um traço leve e um pouco caricato. 

A vida do apóstolo Paulo se entremescla com a narrativa de suas cartas às igrejas. E os autores fizeram um bom trabalho para situar alguns eventos no tempo e no espaço por meio da inserção de personagens que não aparecem no livro de Atos dos Apóstolos, como Onésimo (mencionado na Bíblia, na epístola de Paulo a Filemon) e de um mapa.

Como no volume do Velho Testemento, os quadrinhos não trarão todos os livros do Novo. Por ser uma condensação do texto, a vida de Jesus e a dos apóstolos são contadas em duas seções, abrangendo apenas o essencial em poucas páginas. E o livreto traz alguns bônus, como uma conversa com os autores e rascunhos.

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O estilo do desenho neste volume pareceu-me mais legal que no anterior. Em especial, o Apocalipse. Os evangelistas lembram mais super-heróis, e são bastante estilosos! A história passa rápido, e, caso você queira compará-la com a Bíblia, os autores incluíram as referências desta no canto das páginas, para ajudá-lo. Isso é particularmente interessante quando se vê Paulo ditando trechos das suas epístolas.

Não posso, entretanto, deixar de tecer algumas críticas. Apesar de não haver problemas teológicos ou doutrinários, ressalto que, com relação à versão bíblica base adotada, o livro menciona que utiliza a “Nova Versão Internacional para o Dia de Hoje”, edição de 2004, que não existe em português, mas apenas em inglês (Today’s New International Version” da Sociedade Bíblica Internacional). Trocando em miúdos, não foi usada versão alguma, mesmo havendo indicação.

E isto facilmente se evidencia pelos excessivos erros de conjugação de "vós" e "tu", ou de ortografia, como quando Jesus foi ao "tempo", ao invés de ir ao "templo". Há um trecho em que Jesus comete três erros de português numa só fala! Lembrei-me imediatamente de Seu Creysson, com "équio" e tudo! Esta foi realmente a parte que me desapontou demais.

Uma coisa que soou estranho foi o uso do termo "trabalho" ao invés do tradicional "obra" da Bíblia ("obra" refere-se ao cumprimento dos mandamentos da lei de Deus e a alguma coisa boa que praticamos. Segundo a Bíblia, não podemos ser salvos pelas nossas "obras", mas somente pela fé em Jesus Cristo; apenas Ele pode perdoar nossos pecados, porque sua morte pagou a pena que merecíamos por ter pecado).

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Está escrito assim no mangá: "Se Abraão foi justificado pelo trabalho..." Isto seria facilmente associado com o texto bíblico se o tradutor tivesse recorrido a uma Bíblia e posto "por obras" no lugar de "pelo trabalho". No inglês cola, é o normal, mas em português fica exótico. Na verdade, alguns trechos traduzidos ficaram difíceis de ser apropriadamente entendidos por quem não conhece o texto da Bíblia ou um pouquinho de como o evangelho funciona, trazendo uma certa confusão (na página de onde tirei esse exemplo principalmente!). 

Seria necessário revisar todo o texto valendo-se de uma versão bíblica em linguagem moderna para uma segunda edição (como a Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional, ou a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, da Sociedade Bíblica do Brasil), levando em conta que a obra é uma adaptação da Bíblia para quadrinhos, e que, por isso mesmo, deve ser cercada de grande cuidado e de uma linguagem acessível a jovens leitores.

Eu fiquei decepcionado com as falhas da publicação, entretanto, recomendo a leitura a todos aqueles que sejam seguros bíblica e, sobretudo, linguisticamente.

Da mesma forma que na primeira resenha, estou enviando por e-mail uma cópia desta à editora, para que futuras edições possam vir aperfeiçoadas.
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* Mangá -- estilo oriental de histórias em quadrinhos, em que os personagens têm olhos grandes e expressivos, cabelos estilosos e aparecem em histórias de vários tipos, como dramáticas, de ação, policiais, fantásticas...)

Dados gerais da obra:
A Bíblia em Mangá – O Novo Testamento
Editora: JBC
Autor: AJINBAYO AKINSIKU & AKIN AKINSIKU
Ano: 2008
Edição: 1
Número de páginas: 96
Acabamento: Brochura

18 de maio de 2011

A Bíblia em Mangá – O Velho Testamento. Resenha.



Há muito tempo eu havia visto uma matéria sobre o lançamento de "The Manga* Bible" (A Bíblia em Mangá). Lembro-me de que dei uma olhada em algumas páginas disponíveis na Amazon.com e achei a ideia muito legal. Eu torcia para que ela fosse traduzida para o português. Por não ter olhado os dados da publicação, eu pensava ser uma Bíblia de verdade, mas com algumas passagens ilustradas em estilo mangá em determinadas páginas.

Tratava-se, porém, de uma HQ mesmo. Achei melhor ainda, por constituir uma obra mais independente, que pode ser avaliada sozinha e por seus próprios méritos, e capaz de tornar a Bíblia um livro mais acessível ao público não-religioso e fã de quadrinhos.

Enfim, esses dias eu estava navegando pela sessão de HQs de uma grande loja virtual, e qual não foi minha surpresa de encontrar a Bíblia em Mangá em português! Fiquei muito contente. Mas lamentei a falta de uma resenha mais detalhada que tirasse minhas dúvidas sobre o produto, ou mesmo umas páginas para ler. Comprei os dois volumes e decidi fazer minha própria avaliação, já que em vários sites ninguém fez.

A primeira crítica que eu tenho é por terem lançado a “Bíblia em Mangá” em 2 volumes, ao contrário da versão em inglês, de volume único. No caso brasileiro, deveria-se chamar “Velho” ou “Novo Testamento em Mangá”, por não ser a “Bíblia” completa.

Ontem li o mangá do Velho Testemento. E minha análise específica do volume segue abaixo.

A história é bem adaptada, resumida e bem contada, alternando algumas histórias paralelas ao longo da principal. Por exemplo: a criação, a vida dos patriarcas e a saída do Egito são postas como Moisés narrando esses relatos às crianças no deserto, como se ele fosse um professor de EBD ensinando isto durante o Êxodo. Achei uma bela sacada dos autores. E, lá na frente, o fluxo da história principal é suspenso para contar sobre Jó e Rute.

Teologicamente, não vi problema algum – recomendadíssima.

Tem todos os livros da Bíblia resumidos? Não. Seria demais querer isto num volume fininho e em menos de 150 páginas (reparem que o livro tem pouco mais de 150). Além da narrativa, há extras como biografias dos autores e entrevistas com eles, o que é interessante para o leitor e amante de mangás.

Ah, mas tem os livros de Tobias, Judite e Macabeus? Não, não tem. A história leva em conta o cânon de 39 livros, adotado pelos judeus e pelas igrejas protestantes, e pela própria Igreja Católica Romana antes da Contra-Reforma. Como dito acima, a história é resumida e não contempla todos os livros, apenas o essencial da história. Tchau, Ester!

O traço do autor é veloz, energético e, por vezes, caricato ou sensível, dependendo da gravidade ou leveza do relato. E a história é apresentada de forma dinâmica. Além do mais, são incluídas referências para o caso de você sentir curiosidade de acompanhar a história na Bíblia – muito bom!

Como ninguém é perfeito, aqui vão as falhascom relação à versão bíblica base adotada... Embora os dados bibliográficos do livro mencionem a “Nova Versão Internacional para o Dia de Hoje”, edição de 2004, esta versão simplesmente não existe em português! Os dados do livro em inglês referem-se mesmo à “Today’s New International Version” da Sociedade Bíblica Internacional, mas não existe equivalente em português. Ou seja, traduziram os dados bibliográficos tais e quais, mas não tiveram o cuidado de utilizarem-se de uma versão corrente em português, que, no caso, obviamente, apontaria para a NVI.

O que fica claro é que não devem ter usado versão alguma, mesmo constando lá que sim, a julgar pelos muitos erros de concordância que o texto apresenta e pelos enfadonhos “vós” e “tus”, que aparecem constantemente com conjugações erradas, os quais, raramente, aparecem numa NVI. Isto revela falta de cuidado com a revisão de uma obra tão importante.

Eu sou intolerante com erros de português, mas o texto tinha tantos lapsos de concordância que eu cansava de ler. Às vezes eu queria encostar o livro num canto para respirar e contar até 10. Errar é humano, mas santa paciência!

Trecho da história de Moisés. Clique para ampliar.
Sugestões? Adotassem, de fato, uma versão bíblica. E fizessem uma revisão pesada e detalhada no texto para uma segunda edição – considerando o teor de “Bíblia”, a referência a uma versão hipoteticamente existente e moderna, e a contribuição com os leitores em fase de alfabetização (aprendi muito português com HQs da Turma da Mônica e da Disney, daí minha inquietação). A propósito, seria até melhor o mangá seguir a linguagem corrente da NVI e usar mais “você(s)” ao invés de “tu/vós”, porque a concordância é mais fácil e é muito usada pelos brasileiros.

Outros lapsos compreendem a confusão com alguns nomes e traduções. A cidade de “Midiã” é chamada de “Mídia”, e o pior que às vezes isso está até em negrito. Mas no mapa está correto. Isso gera certa discrepância entre o mapa e a fala de Moisés. Além disso, o mapa da página 146 tem uma frase não traduzida: “Ezra and Hehemiah’s returning exiles” (“A viagem de retorno de Esdras e Neemias”, em tradução livre).

Bom, críticas à parte, eu gostei da iniciativa de traduzirem "The Mangá Bible" para o português, como já disse. Recomendo-a a todos aqueles que gostam de HQs e da Bíblia. E para este volume eu dou uma nota 8. Os desenhos são muito legais, inclusive os mapas. Eu fiquei até pensando... E se saísse uma versão de “A Bíblia em Mangá” completa (como na versão em inglês), ampliada, com as devidas correções, colorida e em papel e encadernação de luxo? Ficaria mais-que-perfeita. (Só faltaria sonhar com a Bíblia em anime. E se esta já existir, e alguém souber, por favor me conte!)

Estou sendo honesto na minha apreciação, e enviando, por e-mail, uma cópia dela aos responsáveis. Pois creio que toda editora deseja melhorar suas publicações visando, também, à satisfação do leitor. Em breve publicarei a resenha referente ao volume do Novo Testamento.
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* Mangá -- estilo oriental de histórias em quadrinhos, em que os personagens têm olhos grandes e expressivos, cabelos estilosos e aparecem em histórias de vários tipos, como dramáticas, de ação, policiais, fantásticas...)

Dados gerais da obra:
A Bíblia em Mangá – O Velho Testamento
Editora: JBC
Autor: AJINBAYO AKINSIKU & AKIN AKINSIKU
Ano: 2008
Edição: 1
Número de páginas: 168
Acabamento: Brochura

7 de maio de 2011

Unção do Leão, a Revolução

Aproveitando a ocasião, acabamos de completar 2 anos de Não, Obrigado!, e somos muito gratos por sua visita e seus comentários.


Que Deus os abençoe sempre!

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4 de maio de 2011

Porque podemos ter certeza da salvação


Os estudiosos dizem que a Carta de Paulo aos Romanos é a cordilheira do Himalaia de toda a revelação bíblica. Se Romanos é a cordilheira do Himalaia, então, Romanos 8 é o pico do Everest. Em Romanos 8.29,30 Paulo faz cinco afirmações gloriosas, que são o fundamento da certeza da nossa salvação.

1. Deus nos conhece de antemão (Rm 8.29). Antes de Deus lançar os fundamentos da terra, acender as estrelas no firmamento e chamar à existência as coisas que não existiam, Deus já havia colocado o seu amor em nós, e nos conhecido como seu povo amado. O verbo conhecer tem o mesmo significado de “amar”. O amor de Deus é eterno, imutável e incondicional. Ele nos amou em Cristo, seu Filho amado, desde toda a eternidade.
2. Deus nos predestina para a salvação (Rm 8.30). Não fomos nós que escolhemos a Deus, foi ele quem nos escolheu. Nós amamos a Deus porque ele nos amou primeiro. Deus nos predestinou não porque previu que iríamos crer em Cristo, cremos em Cristo porque ele nos predestinou. A fé não é causa da eleição divina, é sua consequência. Eu não fui eleito porque cri, eu cri porque fui eleito. Deus não nos predestinou porque previu que iríamos ser santos. Nós fomos eleitos não por causa da santidade, mas para sermos santos e irrepreensíveis. A santidade não é a causa da eleição, mas seu resultado. Deus não nos elegeu para a salvação porque previu nossas boas obras, mas fomos criados em Cristo Jesus para as boas obras. As boas obras não são a causa da predestinação, mas sua consequência. A nossa salvação é obra exclusiva de Deus para que toda a glória pertença a Deus.
3. Deus nos chama com santa vocação (Rm 8.30). Aqueles a quem Deus conhece e predestina, a esses também Deus chama e chama eficazmente. Há dois chamados: um externo e outro interno; um geral e outro específicio; um dirigido aos ouvidos e outro dirigido ao coração. Jesus diz que as suas ovelhas ouvem a sua voz e o seguem. A voz de Deus é poderosa. Os eleitos de Deus podem até resistir a essa voz temporariamente, mas não finalmente. O mesmo Deus que nos elege na eternidade, tira as vendas dos nossos olhos, o tampão dos nossos ouvidos, retira o nosso coração de pedra e nos dá um coração de carne. Ele mesmo opera em nós o querer e o realizar, abrindo nosso coração, dando-nos o arrependimento para a vida e a fé salvadora.
4. Deus nos justifica conforme sua graça (Rm 8.30). Aos que Deus conhece, predestina e chama, também justifica. A justificação é um ato e não um processo. Acontece fora de nós, no tribunal de Deus, e não em nós. A justificação não tem graus, todos os que creem em Cristo estão justificados de igual modo diante do tribunal de Deus, por causa do sacrifício substitutivo de Cristo. Aqueles que estão justificados estão quites com a justiça de Deus e com as demandas da lei de Deus. Não pesa sobre eles mais nenhuma condenação. Toda a infinita justiça de Cristo é deposita em sua conta.
5. Deus nos glorifica para a bem-aventurança eterna (Rm 8.30). Aqueles que são amados e predestinados na eternidade e salvos no tempo desfrutarão da bem-aventurança eterna. Embora, a glorificação dos salvos seja um fato futuro, que se dará na segunda vinda de Cristo, na mente de Deus e nos decretos de Deus já é um fato consumado. Aqueles que crêem em Cristo e estão guardados nele têm a garantia do céu. Nada nem ninguém poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo. O apóstolo Paulo diz que aquele que começou a boa obra em nós, há de completá-la até o dia de Cristo Jesus. Que Deus seja louvado por tão grande salvação!
Por Hernandes Dias Lopes
Publicado no Hospital da Alma,via Bereianos.

21 de abril de 2011

O Evangelho em 3 Minutos - A Páscoa

Espero que você não esteja aí achando que a Páscoa tem tudo a ver com chocolate, ovo, coelho e comer peixe. A Páscoa não é nada disso. Veja uma meditação bastante interessante sobre a origem e o significado desta celebração para judeus e cristãos. 

O conteúdo do vídeo está transcrito abaixo.



Leitura: Mateus 26:17-30


Era o primeiro dia da Festa dos pães sem fermento, que fazia parte das comemorações da Páscoa dos judeus. A Páscoa foi a celebração instituída por Deus antes da última das dez pragas que caíram sobre o Egito por faraó ter se recusado a libertar os israelitas da escravidão.

Naquela ocasião cada família sacrificou um cordeiro e passou o seu sangue no batente da porta. Enquanto os israelitas comiam o cordeiro assado dentro da casa, o anjo do Senhor passou sobre o Egito trazendo consigo o último dos dez juízos de Deus contra o Egito, a morte dos primogênitos. As casas cujas portas estavam assinaladas com sangue foram poupadas. O sangue indicava que ali um cordeiro já tinha morrido no lugar do primogênito. A palavra "páscoa" significa "passar por cima".

Li uma história da 2ª Guerra Mundial que falava de uma aldeia na Europa que foi invadida por um grupo de soldados dispostos a eliminar seus moradores. A missão de cada soldado era entrar nas casas, matar todos e, na saída, deixar na porta uma marca com o sangue das vítimas, para que os outros soldados não perdesse seu tempo entrando ali.

Um morador percebeu o estratagema, correu para sua casa, matou um animal e fez o sinal de sangue na porta. Ele e sua família foram poupados. Hoje, quando Deus olha para humanidade, vê duas classes de pessoas: os pecadores salvos, que foram assinalados pelo sangue do Cordeiro de Deus quando creram em Jesus, e aqueles que ainda estão sujeitas ao juízo reservado aos pecadores que não foram salvos.

Muitas coisas que você lê no Antigo Testamento são símbolos de Cristo, e a Páscoa é uma delas. O derradeiro Cordeiro de Deus já foi morto no lugar do pecador, e o seu sangue está agora disponível para assinalar todo aquele que decidir crer em Jesus. Os israelitas naquela noite fatídica no Egito só tinham uma forma de se proteger do juízo de Deus: o sangue de um cordeiro. Você hoje só tem um meio de escapar do juízo eterno: o sangue do Cordeiro.

Portanto, qualquer mensagem chamada de "evangelho" que não fale do sangue de Jesus, o Cordeiro de Deus, como único meio de salvação, não é o evangelho que você encontra na Bíblia. Qualquer mensagem que fale de salvação baseada em boas obras exclui o sangue do Cordeiro. A carta aos Hebreus diz que "sem derramamento de sangue não há remissão [retirada] de pecados".

Naquela noite todas as famílias no Egito perderam seus primogênitos, exceto aquelas identificadas pelo sangue do cordeiro. Deus havia prometido que, quando visse o sangue, passaria por cima daquela casa. E em você, o que Deus vê? Seus pecados ou o sangue de Jesus, o Cordeiro de Deus?



12 de março de 2011

Mediocridade, uma conveniência evangélica

Estava pensando hoje ao acordar como os evangélicos pensam pequeno. Acredito que o pensamento medíocre seja um dom altamente desenvolvido em nosso meio, inconscientemente, mas não um dom vindo da parte de Deus, visto que deixa de lado a sabedoria e, muitas vezes, o temor d’Ele.

Lembrava-me de como não temos visão para movimentarmos mundos e fundos para erguer um orçamento de mais de um milhão de reais porque “Mr. Sicrano Máximus”, grande pastor conferencista de televisão, queria fazer uma apresentação de dois dias num megapalco, em uma grande cidade brasileira, a pretexto de pregar o evangelho. Penso o que esta mesma quantia poderia fazer a curto, médio e longo prazo se distribuída entre vários missionários que estão passando dificuldade na África e em outros países da América do Sul, enviados por igrejas realmente interessadas em missões, principalmente levando-se em conta que, em muitos desses lugares, o câmbio faria o dinheiro render ainda mais.

Às vezes concentramos todo o esforço num megashow de dois dias, interessados em que muitas mãos sejam levantadas e contadas, e que a cifra dessas “conversões” seja alta o bastante para nos fornecer um atestado de espiritualidade e serviço cristão para que os críticos possam ver, uma estatística interessante para que os fãs possam se gloriar e para que os colaboradores não se desanimem.

Não nos ocorre que aquelas pessoas depois de levantar as mãos, impelidas por emoção, depois de uma apresentação onde se fez de tudo para que elas chorassem e deixassem a razão de lado para “aceitar Jesus”, vão voltar a pensar uma segunda vez, parar de chorar e, possivelmente, não ter impacto algum. Não nos importa que elas não pensem no que vão ter que renunciar ou sofrer para seguir o mestre, nem que calculem o preço de deixar tudo para não ter que desistir no meio do caminho (Lucas 14-26-33); tampoco queremos saber quem irá lhes ensinar a ser um discípulo, depois da queda dos confetes, transmitindo-lhes tudo o que ele havia ensinado.

Em se tratando de coisas assim, quanto menos se pensa, melhor para quem lucra.

O show terminou. Já temos a estatística. Já temos um laurel. Por que achar que fazer missões é fazer discípulos (ensinando-os, batizando-os, ajudando-os a descobrir e desenvolver seus dons, oferecendo-lhes apoio em suas necessidades materiais e espirituais...), se eu posso [convenientemente] pensar que basta transmitir o “Plano de Salvação” e manda-lo embora com um sorriso no rosto e lágrimas nos olhos, abandonando o prospecto discípulo ao Deus dará?

Há alguns anos, vi uma cantora evangélica que, tendo em vista o anúncio de um iminente contrato dela com a Som Livre, atacou dizendo que os evangélicos invadiriam a mídia secular, que haveria novelas evangélicas (juro que quando vi o vídeo explodi em gargalhadas, imaginando a breguice que seria; porque evangélicos sempre gostam de fazer um "genérico santificado" para si das coisas que invejam do “mundo”, atestando contra si que este consegue fazer quase tudo com uma qualidade melhor, só que  irremediavelmente “mundano”, para que justifique fazer-se uma cópia barata gospel para os crentes). Obviamente os fãs colheram esta “pérola” como uma profecia de “cousas ocultas... mistérios...” vinda do Espírito Santo...

Entretanto, na época anterior à da “profetada”, Aline Barros já tinha contrato com a Som Livre e já tinha passado em vários programas de TV (inclusive na “Rede Esfera”); pastores e igrejas já tinham jornais, rádios, canais de televisão e horários adquiridos da grade de canais não-religiosos (nos quais alguns religiosos gospel já passavam mais tempo que gado no Canal do Boi ou propaganda da TekPix - virando o relógio, mas não o disco, quando o assunto é pedir mais e mais dinheiro). Se os católicos de sucesso vez por outra sempre passaram na mídia secular sem fazer alarde de pobre besta quando fica rico, lógico que os evangélicos já estavam a caminho inevitável disso, como o próprio cenário demonstrava em simples observação, pois se a população evangélica cresce... 

Profetas do óbvio são dispensáveis e não são profetas, mormente quando fingem ser. Não precisamos desses exemplares, mas, urgentemente, de babás.

O que me deixa triste é por que os evangélicos invejam tanto a fama e a oportunidade da mídia secular quando temos potencial para fazer muito melhor sem ela. O alcance que a mídia televisiva tem de público não é tanto quanto podemos atingir se apenas fizermos nosso papel, vivendo como servos de Cristo em nossa família, nosso local de trabalho, nossa vizinhança, no relacionamento com pessoas desconhecidas e nos campos missionários...

A televisão não tem o poder de fazer um amigo, de conhecê-lo profundamente e por anos, de compartilhar momentos bons, ruins e uma boa palavra, de cuidar ou de amar. A televisão não pode interagir, escutar seus problemas, trazer um bom conselho na hora em que você precisa, ajudar-lhe com suas necessidades prementes, nem mostrar-lhe, na prática, um pouco de Deus.

Eu questiono seriamente esse querer demais o que o mundo pode dar, quando Jesus recusou as tentações de autossuficiência, fama, poder, riqueza e glória deste mundo que Satanás lhe fez. Para quê eventos públicos caríssimos, de questionáveis resultados espirituais, e o desespero por utilizar-se a ferro e fogo da mídia secular, que com ela traz todo um pacote contratual que limitaria nossa liberdade cristã de pregar o evangelho como ele de fato é, exigente  e exclusivista?

De acordo com Mateus 28.19-20, temos a missão de fazer “discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu [Jesus] vos tenho mandado.”

Mas parece que estamos apenas torcendo para que meia-dúzia de ídolos gospel, a quem delegamos nosso papel de louvar, engrandecer a Deus e fazer discípulos, o façam na caixinha boba de elétrons em nosso lugar, para que o mundo veja seus brilhos, polichinelos, mortais de costas, bordões toscos, quedas, gritarias, gemidos, urros, imitações de animais e holofotes seculares alugados, e, quiçá, no futuro, também, suas cafonas novelas farisaicas que mostrariam a vida “gospel” limitada a coisas imitadas do “mundo” - para mais desgraça e vergonha nossas.

É bem conveniente mesmo para nós, evangélicos, abdicar do nosso mister de discípulos e estabelecer e financiar “representantes” que o sejam em nosso lugar, mesmo que eles tenham modos excêntricos e questionáveis – basta que sejam a única casta do nosso meio que goze de “intocabilidade ungidástica”, do mesmo jeito que os deputados gozam de imunidade parlamentar, só que... “gospel”. 

Outro problema é que nossos “representantes” não fariam, como não fazem a contento, nosso papel de pregar a verdade como ela é: pois a verdade desagradaria uma parcela do mercado consumidor dos produtos deles, e eles deixariam de lucrar mais. Mas, não  precisaríamos nos apoquentar, nós (re)compensaríamos isto – como já o fazemos – enriquecendo-os pela compra de seus CDs, DVDs, livros, bonecos, chaveiros, cadernos, garrafinhas de água, relógios de pulso, camisetas, bonés...

Por Avelar Jr.

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