23 de janeiro de 2010

Pastores e suas Denominações

Por Pr. Valney Veras
Publicado no blog Verbum Testimonii


Você já observou a quantidade de denominações e igrejas de “fundo de quintal” que têm surgido em nosso país? Parece que nunca ninguém está satisfeito com a doutrina ou prática de sua denominação. E, também, percebe-se que cada um é mais esperto, espiritual ou preparado do que o outro. Quantos pastores, ou supostos pastores, estão reinventando a “roda”? Parece que nestes dois mil anos de cristianismo ninguém acertou no fazer igreja, somente aquele irmão que decidiu sair de sua igreja para fundar a igreja perfeita e ideal aos SEUS próprios olhos.



As igrejas emergentes começaram assim. Pessoas de certa capacidade da igreja, geralmente empresários, comerciantes, ou administradores e gestores viram que poderiam fazer a igreja crescer mais. Pensaram: “Afinal, esse negócio de doutrina fria e sem graça mata a igreja”. Com certeza não lêem a Bíblia. Estes vão se ver com Timóteo (2 Tm 4.3), com Tito (Tt 2.1) e com o Deus deles! O resultado foi uma Igreja Empresa, que tem como meta vender um produto para seus consumidores: os fiéis pecadores.


Por que tantos homens e mulheres têm almejado sua própria denominação? O pecado da soberba está cada vez mais presente no coração dos líderes religiosos. Cada qual quer criar A IGREJA. Não me esqueço de um evento que ocorreu comigo no seminário. No meu primeiro semestre, fiquei aterrorizado com a abordagem de um colega meio estilo frankenstein. Estava eu lavando roupa na pia da lavanderia, quando ele chegou do meu lado, e do nada me surpreendeu dizendo: “Eu não vim aqui para ser um pregador, mas para ser O PREGADOR!!!” Logo em seguida retirou-se. O tempo passou, eu me tornei pastor, e recebi notícias do meu colega estranho. Soube que ele foi rejeitado no púlpito pelo seu pastor, foi dispensado pelos jovens e expugnado pelos adolescentes. Até que uma criança puxou a calça do pastor da igreja e disse: “Fulano não pastor, o Fulano não!!!”


Muitos querem ser O PREGADOR, ou às vezes O ORÁCULO, poucos querem, somente, ser servos. Jesus falou sobre isso aos seus discípulos: “Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo” (Mt 20:26-27). Realmente não me coloco na posição de juiz que detém a verdade completa, mas, segundo impressões pessoais, entendo que o Senhor Jesus Cristo não espera um empreendimento físico tão grande quanto deva ser o espiritual. Por físico, me refiro ao patrimônio e alvos perseguidos pelas mais variadas denominações evangélicas que carregam o nome de cristãs.


Homens desempregados, frustrados, empresários em busca de um novo nicho de negócios, ou pastores com uma perspectiva de crescimento de igreja errada têm buscado sua própria denominação. Como se já não existissem demais. Não é necessário reinventar a igreja; até porque ela em sua constituição neotestamentária é simples, o nosso pecado foi que perverteu tudo.


O prejuízo desta avalanche de denominações recai sobre a pregação do Evangelho. Quantos vão saber entender esta guerra de denominações, como se fossem lojas na busca de clientes, em uma competição frenética por lucros e resultados? Obviamente não dá para reverter esse processo, mas é possível refreá-lo. As igrejas e os pastores conscientes da missão de expansão do Reino de Deus na Terra podem não mais multiplicar as denominações, e, sim, centrar-se em multiplicar igrejas de crentes.


A igreja é o laboratório de Deus para o treinamento dos cristãos. Estes devem aperfeiçoar seu amor pelo mundo. A igreja é o corpo de Cristo, não é somente um negócio ou hobby. Costumeiramente, as pessoas que saem de igrejas tradicionais, conservadoras e bíblicas, enveredam-se pela idéia de criar a IGREJA IDEAL. Como se muitos outros não o tivessem feito. O ideal de amar a Deus e ao aproximo no convívio da igreja foi substituído pela ânsia do crescimento numérico, e pelo ideal pragmático da religião que é o sucesso imediatista.


Esta reflexão visa equilibrar a tendência pós-moderna do “crescimento de igreja” e de denominações no nosso país. É melhor fortalecer aquilo que já temos, do que criar novas instituições. No entanto, sempre existe o outro lado. Não quero ser incoerente, ou indeciso, mas é importante reconhecer a necessidade de uma igreja contextualizada, a fim de atingir a sociedade com a mensagem do evangelho. Quem lê não entenda “contextualizada” como secularizada ou mundanizada, mas, sim, uma igreja com uma linguagem acessível às categorias de comunicação vigentes. Sem obviamente rejeitar os preceitos bíblicos.

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