20 de outubro de 2009

N' Sei o quê, n' sei o quê lá...

Eu adoro assistir a esquetes e quadros humorísticos na televisão. Mas dificilmente eu acho algo realmente interessante, criativo ou engraçado na TV, eu sou mais YouTube. Um quadro de que eu gostava bastante retratava uma garota que conversava com a mãe sobre sua vida de adolescente com um vocabulário típico, repleto de gírias de rolar de rir.

Fato é que o quadro foi tão bem-sucedido que o linguajar da garota terminou por influenciar garotos um pouquinho grandes demais, e essa influência chegou a lugares inconvenientes e inusitados.

[Foto: Heloisa Perissé interpretando Tati, a adolescente bastante descolada que "estragou" o linguajar de muita gente séria e nos trouxe boas gargalhadas.]

Calor de matar. A sala e os bancos eram insuficientes para apertar duas turmas da faculdade na sala de vídeo do campus. A palestra, pelo menos, era interessante, na área de Direito Ambiental. A sala, com pouca luz, favorecia as conversas paralelas dos colegas, que nunca viam os que estudavam no outro turno e aproveitavam para pôr o papo em dia.

Palestra rolando, conversas por bilhetinhos e risadinhas paralelas: nada que pudesse se comparar a estranheza do debatedor que roubou a fala do palestrante para “traduzir” para o grupo de ouvintes de dezenove a cinquenta e tantos anos o que acabara de ser dito.

Esse cara beirava os quarenta anos, e, na expectativa, todos silenciaram, julgando que o que ele iria dizer seria mais importante. E ele começou: “Bom, galera, tipo assim: eu acho que cês tão pensando que biota, sabe, é uma coisa tipo sei o que sei o que lá, sei o que sei o que lá...” – Juro, foi difícil conter a gargalhada diante de uma palestra dessa para a universidade. No outro dia só se falava das expresões adolescentes do rapaz, tiradas da esquete da menina do Fantástico. E o pobrezinho, virou motivo de brincadeiras e piadas de corredor por semanas.

Outro dia, lembro-me de que estávamos na calçada do fórum quando um colega meu estava dando explicações sobre a decisão de um juiz dentro de um processo para pessoas notoriamente rurais. Ele dizia que “a fim de que o réu não fosse lesado, o juiz...” Nesse instante, eu percebi, pela fisionomia, que o rapaz não entendeu a frase (ele estava rindo), e interrompi meu colega para explicar, “ele quis dizer, que, para não prejudicar a outra parte... ‘Lesado’ aí não quer dizer ‘abestado’, quer dizer ‘prejudicado’”. Meu amigo me agradeceu, pediu desculpas ao rapaz, percebeu que tinha que evitar termos usuais do foro com os leigos e todos saímos felizes porque houve comunicação efetiva e no mesmo nível.

Também lembro-me de que estávamos numa assembleia ordinária, certa vez, decidindo um assunto simples mas que causou divergências. E um irmão, descontente porque sua proposta não foi endossada por várias pessoas, irado, desferiu um “Vocês não concordam porque vocês são uns hereges!” Nisso, todos começaram a olhar uns para os outros sem entender o que ele quis dizer, e riram, visto que o assunto não era doutrinário. Então, um dos jovens lhe replicou: “Olha, irmão, não venha chamar os outros de hereges, não! Porque você nem sabe o que isso significa!” Ao que ele rebateu, para a gargalhada geral: “Sei, sim! Herege é quem vai pela cabeça dos outros!” – Novamente foram semanas de brincadeiras entre os jovens: “Homem, você é um herege... Porque vai pela cabeça dos outros”...

Esse texto é apenas para chamar a atenção para algo simples e muito importante: comunique, não apenas fale.

Nós temos uma mensagem para comunicar: o evangelho da salvação; temos um interlocutor: toda criatura; temos um local de trabalho: o mundo; temos uma missão: fazer discípulos e ensiná-los a guardar tudo o que Jesus nos tem ensinado; temos um Senhor, que está sempre conosco e nos ajuda em nossa incumbência: Jesus Cristo. - Mateus 28. 18-20

Devemos fazer com que essa mensagem chegue a todos, e, para tanto, vamos transmiti-la de modo claro, simples, para que o nosso ouvinte possa compreendê-la perfeitamente. Evite “jargões gospel” vazios e desnecessários, que podem atrapalhar ou fazer com que as pessoas se sintam excluídas, menosprezadas ou confusas. Vamos falar a língua dos outros, mas sem tratá-los como retardados ou inferiores. E nunca nos esqueçamos de usar um linguajar sadio, de usar palavras cujo significado seja conhecido por nós e pelos nossos interlocutores. É importante também conhecermos o peso e conveniência que as palavras têm em determinados contextos e estarmos preparados para questionamentos eventuais.

A falha em ser um cristão autêntico pode fazer com que sua mensagem caia em ouvidos moucos e com que a mensagem da cruz seja blasfemada, pois o que você fala deve estar em perfeito compasso com o que você pratica, e em sintonia com a palavra de Deus. Seja sua vida – e não apenas suas palavras – a mensagem.

Não me lembro de nada do conteúdo da palestra sobre Direito Ambiental daquela tarde, só das gírias engraçadas e dispensáveis. Mas, com aquele rapaz, aprendi algo bastante útil: adapte seu vocabulário a quem você está falando na medida da necessidade e no contexto correto. E não subestime seu interlocutor, caso contrário o tonto imaginário pode ser você - e isto, tipo assim... ninguém merece!

Se pluga! ;)


Passagens bíblicas úteis:

Mt 28. 18-20;
Atos 2.6;
1Co 14.19;
Ef 4.29;
Cl 3.8;
1 Tm 4.12;
Tt 2.7-8;
Tg 1.19;
1Pe 4.11.

[Atualizado em 20/06/2011 para correções]

Um comentário:

João Paulo Fernandes disse...

OOO..glória! Ainda bem que você não foi "herege".

" Tipo assim" Ta ligado? Mais do que palavras, sejam elas simples ou complexas, é o viver, isso sem dúvida fala mais do que mil palavras!

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