30 de agosto de 2009

"Blogs que se escrever-se-ão-se sozinhos a si mesmos"


Título maluco? Imagina! Pleonasmo vicioso e errado é pouco para ilustrar o absurdo de achar que os blogs se escrevem sozinhos, que têm vida própria, personalidade e raciocínio. Mas é assim que eu tenho pensado que alguns blogueiros veem a blogosfera depois de ler textos meus atribuídos aos blogs que os publicam ou republicam.

Texto Tal

Corpo do texto.

Autor: (- O blog?)
Fonte: Blog

Foi o blog sozinho quem escreveu o texto? Não. O autor é uma pessoa, dotada de personalidade, inteligência, emoções, criatividade e nome. Mas quem? Bom, meu blog nunca escreveu nada pra mim. Nem um bilhete. Nem os outros blogs.

Reconheçamos os blogueiros que dão duro para escrever os textos bons que divertem, edificam, e de que nós gostamos. Valorizemos os autores que recomendamos, citamos e republicamos em nossos blogs.

É muito simples fazer isso: basta darmos os devidos créditos e ostentarmos links aos blogs deles.

Por um lado, não dói, não dá trabalho, não deixa o blog feio. Por outro lado, é justo, é ético, é bom, e, sobretudo, é o que Jesus faria se fosse um blogueiro! – tenho certeza disso – porque, da mesma forma que ele pagou impostos, ele mandou dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mateus 17.24-27; 22.16-20).

Paguem a todos o que lhe é devido. Digno é o trabalhador de seu salário. E a quem merece respeito e honra, respeitem e honrem. Esforcem-se por fazer o bem a todos. (Romanos 13.7; Lucas 10.7).

Então vamos incentivar nossos colegas blogueiros. Deixemos o desleixo, a copiagem irresponsável, a falta de ética bloguística e as alterações textuais não autorizadas. Demos os devidos créditos aos autores. É o mínimo que devemos fazer.

Pessoal,
veja a problemática:

Se você altera um texto alheio, sem autorização, e vem a causar prejuízo ou ofensa que o autor não pretendeu a terceiro, você está pronto a arcar com as consequências disso perante o autor e o terceiro? Ou vai agir ainda pior, deixando que o autor do texto se responsabilize por palavras que ele não disse? É uma questão complicada. E nós blogueiros temos que ter o mínimo de prudência e respeito para com os escritores e leitores.

Também pode acontecer de o texto gerar réplica, debate e ofensa ao autor, que ele não previu. Então, como o autor vai poder treplicar – ou se defender – sem ser cientificado pela pessoa que usou seu texto e não postou o endereço no blog para que o autor fosse diretamente procurado pela pessoa que contestou seu texto (ou que lhe ofendeu)? Você já pensou nisto?

Quanto ao seu blog ou site... é comercial? Você o utiliza para ganhar uns trocados? Você já pensou que os autores dos textos que você utiliza podem não querer que você lucre usando o conteúdo deles porque eles próprios não querem lucrar com o que produzem?

Alguém pode estar se perguntando: “Poxa... o Avelar está pegando pesado”, “...está querendo aparecer com este texto” etc.

Não é nada disso. Quero que fique bem claro que eu não escrevo por audiência ou dinheiro. Eu tenho meu trabalho para me sustentar e escrevo porque gosto de me expressar.
Não pretendo, falando em cristianismo, em meu Senhor e no evangelho obter vantagens. Nem por isso quero que meu trabalho ou o dos colegas blogueiros seja desrespeitado ou menosprezado. E por um “simples” fato: envolve esforço, compromisso e responsabilidade.

Cristianismo, palavra de Deus e evangelho não são produtos. Cristianismo é discipulado, vida. A palavra de Deus é a verdade (João 17.17) e é eterna. O evangelho é testemuho, é “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1.16): é missão da igreja de Jesus Cristo anunciá-lo – e eu não me sentiria confortável em ganhar um centavo sequer para compartilhar isso com alguém, para negociar o poder de Deus que me salvou ou crescer em cima disso (ao contrário de certos "televangelistas" e "apóstolos" que imploram luxo e dinheiro na TV).

Assim, caros irmãos, vamos ser justos, leais com o próximo, respeitar as intenções, as mensagens, os autores e continuar fazendo da blogosfera um espaço mais e mais parecido com o reino dos céus em bytes – para a glória de Deus, nosso Senhor, apenas. Em termos de ética e bom exemplo, devemos ser a vanguarda.

Espero que tenha valido a reflexão. Deixo-lhes meu abraço fraterno e o texto de
Romanos 13. 7-10:

"Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra. A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei. Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor."

28 de agosto de 2009

Paródia: Melô do Pastor Sem-Vergonha


Melodia:
Assim Caminha a Humanidade – Lulu Santos
(Primeiro tema da noveleca Malhação da Rede Glóbulo)

Eu vou abrir uma franquia
De igreja de milagreria.
Natural ser rico assim,
Tanto pra você quanto pra mim!

Se eu pôr um anúncio na rádio,
Logo você vai ser fisgado.
E traz sua grana pra mim
Em troca de milagre e mais dindim.

Se Deus curar você aqui,
A fama vai ficar pra mim.
Daí a gente vai ficar feliz...
E eu ainda lucro mais!

(Instrumental)

Mas e se tudo der errado
Nem vem me encher o saco, estás ferrado
Eu culpo sua falta de fé:
Eu saio bem, você é que é o Mané.

Nem tente fazer essa cara,
Seu beiço não vai mudar nada!
Você creu numa fantasia
Levado pela sua própria cobiça.

Agora vai ficar tristim?
Problema é todo seu. Que ruim!
Não queria estar no seu lugar.
Apenas não perturbe maaaaais!

Não perturbe mais!
Rapaz!
Ê

(instrumental)

Agora vai ficar tristim?
Problema é todo seu. Que ruim!
Não queria estar no seu lugar.
Só dá a meia-volta e sai!
Não perturbe mais!
Não mais!
Ê
Não perturbe mais!
Rapaz!
Nunca mais!
Ê

23 de agosto de 2009

O Armagedom da Moda. E de Como [não] Reconhecer um Crente.

Definitivamente a gente escuta muita coisa esquisita na vida. E isso falando em qualquer assunto. Uma tarde, na época em que eu fazia faculdade, conversávamos sobre várias coisas, e eu não lembro o que houve que uma colega me perguntou:

- Ah, e você é crente, Avelar?!
- Sou, sim. Você não sabia? - e perguntei rindo - Será que eu me comporto tão mal assim que você ainda não tinha percebido?
- Não. É que você não parece com crente, Avelar. Eu até cogitei a hipótese, mas sei lá... Você sempre sorri, ri, conta piada e conversa com todo mundo...
- E por acaso crente não faz isso, não?
- Bom, eu não conheço crentes assim. Geralmente é um pessoal sério que só anda de roupa social e com a Bíblia debaixo o braço... E você não é assim. Então eu achei que você não era crente.

E por aí você vê como o povo conhece um crente: uma figura tipicamente antipática e sisuda. Mas é que as pessoas no geral julgam pela aparência e pela primeira vista, o que as pode levar a equívocos gigantescos. Sem contar as generalizações e os estereótipos baseados até mesmo em casos isolados.

Narrando esse episódio para um amigo meu, ele me disse que isso já tinha acontecido com ele, alguém não achar que ele fosse crente por causa de uma informalidade banal:

- "Ela me disse que até pensava que eu era crente. Mas quando viu que eu mascava chiclete e andava de chinelo descartou a idéia na hora!"

Quer dizer, agora crente não pode mais mascar chiclete e andar de chinelo?! Isso, sim, é que é um preconceito inusitado!

Essa típica mania de julgar pelas aparências e de medir pessoas com os olhos, além de pecado é muito feia. Permanece na cabeça das pessoas que o crente: a) se é homem, é o sujeito de semblante sério, bem-vestido ou vestido formalmente e de Bíblia na mão ou debaixo do braço; b) se é mulher, é aquela de saia nos tornozelos, cabelo grande, sem maquiagem, sem cabelos tingidos e que anda com a Bíblia na mão ou na bolsa.

Ainda tem os estereótipos "plus", que permitem adivinhar com certa margem de acerto de que igreja a pessoa é: a) se veste camisa branca, gravata e calças escuras, mochila e um crachá no bolso é mórmon; b) se usa roupa social, cabelo repartido e penteado para um lado e uma pasta de couro ou uma pasta transparente cheia de papeis, é testemunha-de-jeová; c) se definitivamente não usa qualquer tipo de maquiagem, não passa uma tesourinha sequer no cabelo nem cobre os fios brancos da cabeça com tinta, é da Congregação Cristã no Brasil ou de uma igreja pentecostal...

Mas um dia apareceu uma cena alucinante, da qual eu jamais, em toda a minha existência, efêmera por aqui porém eterna no reino dos céus, me olvidarei - never, ever and ever: uma senhora testemunha-de-jeová que usava um terninho feminino com saia, que seria muito elegante não fosse numa padronagem de oncinha do topo ao rodapé. Foi inédito. Foi uma Sessão da Tarde. Foi... 101 Dálmatas! Tão, tão impagável que eu me segurava para não rir! De onde a mulher tinha saído, de algum programa de música brega? Fiquei com tanta pena dela que quase ofereci minha própria toalha para ela não sair com aquilo pela rua. Espero que o IBAMA não a tenha devolvido à mata pensando que ela tivesse escapulido de lá. Seria até legal se ela andasse com uma placa "Proteja a onça-pintada", conscientizando as pessoas da importância da preservação do meio-ambiente... Ela foi atingida pelo Armagedom da moda e não sabia.

Enfim, não se conhece uma pessoa pela aparência sempre. Mas algumas coisas que nunca mudam terminam por criar uma espécie de jurisprudência do julgamento à primeira vista que nos permite passar muita vergonha de nós mesmos e ser pegos de surpresa de vez em quando: seja o juiz de cabelo comprido, o crente com tatuagem, o policial a paisana... O visual de uma pessoa pode dizer algo, mas não diz tudo. As atitudes é que gritam. E por mais que devamos nos vestir com decoro e bom-senso, não é apenas por isso que devemos ser conhecidos como discípulos de Cristo, e sim pelo amor e pela identidade de vida com ele.

Pra terminar isso, eu vou citar um causo que aconteceu comigo e que me deu muita raiva: Moro a cinco minutos da igreja que frequento. E meu estilo é calça jeans ou cargo, camiseta e tênis. Também corto meu cabelo curto e raramente o penteio - é prático. Todos os domingos passava por um senhor que era pastor na igreja aqui da esquina. Nós sempre nos cruzávamos e ele sempre me via passar com uma Bíblia de zíper debaixo do braço quando cada um de nós ia ao templo.

Pois bem, eu sempre o cumprimentava e ele nunca respondia, até que chegou o dia que passei a ignorá-lo, apesar de suas cãs.

Um belo dia, antes de ir à igreja, eu decido que vou de terno e gravata. Saí todo arrumadinho e com a mesma Bíblia debaixo do braço. Nesse belo dia, o mesmo pastor que nunca falava comigo, apesar de me ver todos os domingos com a biblinha debaixo do braço indo para a igreja diz: "Boa noite, irmão!"

Nem lembro se respondi e o que teria dito. Mas eu me lembro do que pensei: veio na minha cabeça: por que não pará-lo tirar parte do terno e, erguendo-as bem alto diante dele, falar para o blazer e para a gravata: "Vamos, pessoal, respondam ao senhor aqui! Ele está cumprimentando vocês!"... Parece que minha amiga que falava de crentes antipáticos não estava totalmente sem fundamento.

[Atualizado para correções em 11/03/2012]

19 de agosto de 2009

Nos lábios e no coração. Ou não.

É muito engraçado andar pela rua ou conversar com amigos e perceber que alguém está citando a Bíblia com palavras pouco convencionais ou inventando inocentemente coisas que não existem lá.

Certa feita, eu andava pela praça onde pegamos ônibus para a cidade vizinha, e vi dois homens conversando. O jeito de falar e de vestir de ambos não deslumbrava, muito pelo contrário, seriam os típicos matutos que a gente vê todo dia. “Triste do caba que confia nôto” – disse um deles. E eu logo me lembrei de Jeremias 17.9 e sorri para mim mesmo, enquanto fingia prestar atenção no livro que trazia comigo.

Outra vez, estávamos imaginando como seria Gênesis na voz de um surfista... (Isso depois de vermos "The Cockney Bible", ou, em português, "A Bíblia Cockney" - Histórias da Bíblia traduzidas numa antiga gíria britânica que consisitia em juntar duas palavras com algo em comum mas o significado seria uma palavra que rima com a segunda delas. Exemplo em português: “Eu gosto de comer pé e mão com então e pois” – eu gosto de comer feijão com arroz.) ...

“Começou só morgação... tinha nada. Deus falou ‘Aê luz, chega junto!’ e a luz chegou. [...] E Deus fez o cara e a mina e disse ‘Ficou massa.’ E Deus achou tudo muito legal.”

Falando sobre a transformação dos que estiverem vivos para o encontro com o Senhor nos ares, já vi gente dizer que ia “subir pro céu com tripa e tudo” para dizer que teremos os corpos transformados.

Mas engraçados são aqueles versículos que não existem em lugar algum, que crente velho insiste em achar que tem: um amigo de um amigo detestava desperdício de comida, e para justificar seu estranho hábito de gula (após o almoço comia tudo o que foi deixado na mesa), ele dizia que estava escrito na Bíblia: “E Deus amou a limpeza”. Além de não existir esse verso, a “limpeza” dele era “comer até não sobrar nada”. Parece que na bíblia dele esse verso substitui os que condenam a gula.

Também sempre tem o político que sobe no palanque e adora dizer que “Como disse Deus, ‘Esforça-te que eu te ajudarei’” – essa arranca muitas gargalhadas, mas apesar de não estar na Bíblia assim, tem inúmeras referências onde Deus manda o povo se esforçar e promete seu auxílio.

Enfim, eu me divirto ouvindo versículos que espontaneamente brotam do nosso jeito de falar, com nossos regionalismos e gírias.

O pessoal diz que eu sou “espontâneo demais”, mas uma vez quase soltei a pérola de traduzir, a pedido de uma missionária, a história da multiplicação dos pães, que ela contava em inglês para uma turma do clube de inglês, da seguinte forma: “E os discípulos perguntaram: que é que tá pegando, hein?”

A Bíblia certamente ganha um colorido especial quando é posta no dia-a-dia da gente na voz e no jeito das pessoas para a qual ela foi escrita. Mas o que me deixa realmente triste é o elitismo lingüístico e o preconceito que temos (alguns de forma inconsciente) contra traduções em linguagem mais simples. Várias pessoas condenam ou espalham boatos que tal Bíblia diz isso ou aquilo sem jamais haver lido ou conferido o assunto. É triste.

Minha maior decepção quanto ao assunto de linguagem e Bíblia foi ler a minha na casa de uma mulher pobre, sem educação, sem conhecimento prévio de Bíblia, amiga minha, num trecho do evangelho em que Jesus cura um doente: senti-me num pedestal. Comecei a traduzir toda a história para ela com palavras simples, pois percebi que ela não entendia algumas palavras eruditas do texto de minha Bíblia de cabeceira. (Desde então, tenho preferido e recomendado a NVI e a NTLH para evangelismo.)

(Para vocês terem uma ideia, em duas das minhas leituras completas da Bíblia eu fiz listas de palavras difícieis de entender para pessoas de média e de pouca cultura. E até na "Nova Tradução na Linguagem de Hoje" eu encontrei várias vezes a palavra "patrícios". Onde é que na "linguagem [do Brasil] de hoje" as pessoas costumeiramente usam a palavra "patrícios"? Só se for na linguagem de hoje do Império Romano! (Ah, e as listas ficaram grandes! ... E eu confesso com vexame: nunca olhei todas elas no dicionário. Para diminuir meu vexame, defendo-me: algumas eu não precisei.)

Se a Bíblia só fala a língua “dos dotô”, como a gente pode se surpreender de as pessoas não a conhecerem? Perguntem em suas igrejas o que significa chuva serôdia, primípara, beneplácito, imarcescível, coscorões, séquito, eira, arrazoar, unção, rapaces, propiciatório e o famigerado patrício! Nem sempre pelo contexto dá para deduzir alguns significados claramente. Felizmente algumas Bíblias vêm com vocabulários.

Não quero dizer que as traduções não devam ser respeitosas e bonitas, mas que os tradutores e pregadores devem fazer o possível para que a Bíblia seja simples, clara e inteligível a todos, ao invés de apenas culparem o governo pela deficiência de educação e tornarem a Palavra uma erudição primorosa e inatingível ao coração.

E pelo amor de Deus, nunca deixem de dizer para as pessoas que "dom" é um "presente" e que "graça" é um "favor que nós não merecemos".

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