"...Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?" - Atos 2.11
"Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz" - 1 Pedro 2.9
Eu gosto muito de ler a Bíblia. Tenho uma que considero de cabeceira, apesar das várias versões que tenho. Quando decoro versículos, quando estudo mais seriamente uma passagem e em diversas ocasiões sempre recorro a ela.
Desde que me converti, me alegrei com sua companhia. Temos sido amigos íntimos: íamos ao culto juntos, viajávamos juntos e, mesmo com os traços de idade e o desgaste do tempo, ela ainda está aqui comigo com seus rabiscos, cores, ícones e marcações que desenvolvi.
Lembro-me de que uma vez, eu e minha mãe fomos à casa de uma senhora idosa, amiga da família, cujos alegria e sorriso eram constantes mesmo nas maiores adversidades. Muito religiosa e receptiva, ela era sempre disposta a ouvir falar de Deus; católica devota, ainda benzia quem a procurasse -- uma pessoa simples, carinhosa e que, na sua luta pela sobrevivência, talvez nunca tenha frequentado uma escola na vida.
Lembro-me de que pedi-lhe para ler uma passagem da Bíblia: uma daquelas em que Jesus curou alguém, porque ela própria estava enferma. Eu comecei a lê-la muito animado e, à medida que lia, vi quantas palavras pareceriam desconhecidas ou confusas para uma pessoa de pouca ou nenhuma educação como ela.
Obviamente eu iria comentar o texto em seguida, mas fiquei envergonhado de me sentir obrigado a simplificar palavras que a tradução poderia ter evitado a fim de comunicar uma verdade tão bela e essencial. Saí com um sentimento agridoce, pois vi que a versão que quase falava a minha língua -- porque o dicionário também frequentava nossa roda de amizade -- não falava a língua de muitas outras pessoas, principalmente das mais necessitadas. Eu estava num gueto e não sabia.
Desde então, apesar de conviver com minha "versão de cabeceira" em casa e no púlpito, tenho usado outras versões para evangelismo e também nas atividades da igreja, mesmo vendo algumas pessoas que torcem o nariz para novas traduções, e até mesmo uma visitante -- que não sei de onde raios saiu -- para mandar meu melhor amigo jogar uma paráfrase dele no lixo em plena Escola Bíblica Dominical.
Se nossas Bíblias não falarem a língua no povo (como Deus costumava falar), vamos esperar pacientemente que os de fora se acomodem ao nosso grupo de amantes de preciosismos linguísticos sagrados anacrônicos e carente de comunicação fluente, para, só então, descobrirem a (nossa "hermética") palavra de Deus.
3 comentários:
Oi Avelar,
Adorei o texto!
Eu gosto muito das versões mais tradicionais, mas uso uma NVI pq concordo q a palavra tem que ser entendida e não decorada.
Apesar disso, não indico para meus alunos as versões atuais, pois aprendi o significado de muitas palavras através do estudo da Bíblia e da curiosidade e sede de aprender e entender. Sempre tento incentivá-los a procurar o significado das palavras mais complicadas e não usadas no dia-a-dia.
Abr,
Angela
Avelar, também tenho passado pelo mesmo sofrimento que citastes: as pessoas não entendem o texto das versões RA e RC do padre João Ferreira de Almeida. Apesar de conviver há anos com a RA, também tenho procurado adotar a postura da Angela, usando a Nova Versão Internacional e até mesmo fazendo minhas próprias "traduções" das porções que quero expor, fazendo com que os ouvintes percebam que a Bíblia é para ser interpretada, compreendida e vivida. O Deus que preservou-nos sua riqueza é pessoal e devemos ter um relacionamento pessoal com Ele e Sua Palavra. Como a Angela, incentivo sim a leitura do texto mais clássico e o uso do dicionário.
Esse texto foi republicado em outros blogs, e, onde houve isto, varias pessoas se identificaram e relataram ter passado pelo mesmo problema. Esta é uma inquietação mais comum do que eu imaginava.
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